Por Alexandro Martello, G1, Brasília

12/12/2017 08h12

Comitê do Banco Central admite inflação abaixo do piso da meta neste ano e deixa aberta a possibilidade de continuar reduzindo juros depois de fevereiro. Mas também sinaliza ‘que o atual estágio do ciclo recomenda cautela’ nas decisões sobre juros.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central sinalizou nesta terça-feira (12), por meio da ata de sua última reunião, quando o juro básico da economia atingiu a mínima histórica de 7% ao ano, que pode baixar novamente a taxa Selic em fevereiro, em seu próximo encontro, mas com um ritmo menor. O mercado financeiro espera que a taxa recue para 6,75% ao ano.

“Mas [os integrantes do Copom] avaliaram que cabia advertir que essa visão é mais suscetível a mudanças na evolução do cenário e seus riscos que nas reuniões anteriores”, avaliou o BC.

Ao mesmo tempo, também resolveu manter aberta a possibilidade de continuar reduzindo a taxa de juros nos encontros depois de fevereiro. “Houve consenso em manter liberdade de ação, mas sinalizar que o atual estágio do ciclo recomenda cautela na condução da política monetária [decisões sobre a Selic]”, informou no documento.

Por outro lado, os integrantes do Copom informam qjue também “refletiram” sobre o risco de a atual conjuntura inflacionária (com a inflação compatível com a meta central de 4,5% em 2018) “ser interrompida por uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira, em particular em um contexto de reversão do corrente cenário externo favorável para economias emergentes”.

Nesse caso, o Banco Central não descartou a possibilidade de subir a taxa de juros no decorrer do próximo ano.

“O Copom reafirmou que a política monetária [definição dos juros] tem flexibilidade para reagir a riscos para ambos os lados, tanto ao risco de que efeitos secundários de choques de oferta e propagação do nível corrente baixo de inflação produzam inflação prospectiva abaixo do esperado, quanto ao risco de um revés no cenário internacional num contexto de frustração das expectativas sobre as reformas e ajustes necessários”, informou a instituição.

No documento, os integrantes do Copom “voltaram a enfatizar que a aprovação e implementação das reformas, notadamente as de natureza fiscal [entre elas a da Previdência Social], e de ajustes na economia brasileira são fundamentais para a sustentabilidade do ambiente com inflação baixa e estável, para o funcionamento pleno da política monetária e para a redução da taxa de juros estrutural da economia, com amplos benefícios para a sociedade”.

Inflação abaixo do piso da meta neste ano

O Comitê de Política Monetária do BC também baixou sua estimativa de inflação para este ano (considerando a estimativa dos analistas dos bancos para câmbio e juros) de 3,3% para 2,9% – conforme já estima o mercado financeiro. Com isso, prevê que o IPCA fique abaixo do piso de 3% do sistema de metas de inflação neste ano – algo inédito.

Para 2018, a estimativa de inflação caiu de 4,3% para 4,2%.

Para 2017 e para 2018, a meta central de inflação é de 4,5%, com intervalo de tolerância de dois pontos percentuais, ou seja, o IPCA pode variar entre 3% e 6% nestes anos sem que a meta seja formalmente descumprida.

Quando a meta de inflação é descumprida, o presidente do Banco Central tem que escrever uma carta pública ao ministro da Fazenda explicando as razões para a variação fora da previsão.

Como o BC define a Selic

A definição da taxa de juros pelo BC tem como foco o cumprimento da meta de inflação, fixada todos os anos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Normalmente, quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic na expectativa de o encarecimento do crédito freiar o consumo e, com isso, a inflação cair. Essa medida, porém, afeta a economia e gera desemprego.

Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas predeterminadas pelo CMN, o BC reduz os juros. É o que está acontecendo neste momento.

Após uma longa recessão, a economia dá sinais de reaquecimento, segundo analistas, mas os preços ainda seguem comportados por conta de boas safras agrícolas.

De janeiro a novembro, segundo o IBGE, a inflação oficial, medida pelo IPCA, ficou em 2,5%, o menor para este período desde 1998.

Para 2017, o mercado financeiro prevê que a inflação ficará em 2,88%, abaixo da meta de 4,5% fixada pelo CMN para este ano e também do piso de 3% do sistema de metas.