Por Alex Ribeiro, Fabio Graner, Lucinda Pinto e Arícia Martins – Valor Econômico

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu a meta da taxa Selic em 0,75 ponto percentual, de 8,25% ao ano para 7,5% ao ano, e indicou que poderá fazer um corte adicional de 0,5 ponto percentual em dezembro, para 7% ao ano, levando os juros básicos para o menor percentual registrado em 18 anos do regime de metas de inflação.

Mas mudanças feitas no comunicado divulgado logo após a reunião, que mencionavam um fim gradual para o ciclo de baixa de juros, levantam dúvidas sobre os passos seguintes ao corte de 0,5 sinalizado ontem. Nesse sentido, a alteração mais importante feita pelo colegiado foi a retirada da frase que estava no comunicado anterior: “o Comitê antevê encerramento gradual do ciclo”.

Ao mesmo tempo, o BC repetiu a afirmação de que “para a próxima reunião, caso o cenário básico evolua conforme esperado, e em razão do estágio do ciclo de flexibilização, o Comitê vê, neste momento, como adequada uma redução moderada na magnitude de flexibilização monetária”.

Ao mencionar “uma redução moderada na magnitude da flexibilização monetária”, o texto é muito semelhante ao do comunicado da reunião de setembro, que sinalizou a moderação do ritmo de corte de 1 ponto percentual feito naquele mês para 0,75 ponto agora. Por isso, a tendência é uma nova desaceleração nos cortes na reunião de dezembro, para 0,5 ponto percentual.

Essa é a leitura do sócio-gestor da Modal Asset, Luiz Eduardo Portella, para quem o Copom praticamente se comprometeu com um novo corte de 0,5 ponto em dezembro. A discussão agora se volta para o que acontecerá em fevereiro. Para Portella, ao retirar a afirmação de que prevê um “encerramento gradual” do texto, sugere que dificilmente um novo movimento seria de 0,25 ponto, como parte do mercado espera.

“A dúvida fica entre mais uma ou mais duas de 0,5 ponto”, diz Portella. Em sua visão, o mais provável é que o BC opte pela segunda hipótese, dado o cenário de inflação apresentado no comunicado, ainda abaixo da meta. “Talvez haja espaço para a Selic cair um pouco mais.”

O economista-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks, concorda que o comunicado da decisão do Copom indica uma desaceleração adicional para a próxima reunião para 0,50 ponto. Mas, para a reunião seguinte, o BC deixa o quadro em aberto. Ainda assim, o fato de as projeções estarem abaixo da meta, mesmo com uma Selic caindo a 6,75% e voltando para 7% somente no fim do próximo ano, como prevê o Focus, sugere que há espaço para um corte adicional. Em seu cenário, essa nova redução deve ser de 0,5 ponto, para 6,5%. “O BC sancionou implicitamente nos modelos e na comunicação o cenário sub-7”, afirma, referindo-se à expectativa de que a Selic caia abaixo da linha dos 7%.

Já o sócio da 4E Consultoria Juan Jensen teve um entendimento diferente acerca da retirada da expressão “encerramento gradual do ciclo”. Para ele, esse foi um sinal de que o ciclo será mais prolongado. Por isso, o especialista revisou sua expectativa para a Selic para 6% – abaixo do consenso do mercado.

Jensen ainda acredita que haverá mais um corte de 0,5 ponto da taxa em dezembro. Mas, em vez de manutenção durante todo o ano de 2018, agora o economista avalia que pode haver uma nova redução na mesma magnitude em fevereiro, seguida de dois cortes de 0,25 ponto. Uma Selic nominal em 6% significaria um juro real de 2,0%. “Assumindo que a taxa ‘neutra’ convirja para patamares próximos a 4%, trata-se de uma política monetária fortemente expansionista”, afirma. “De toda forma, consideramos esse patamar de expansão monetária condizente com nosso cenário básico de inflação e atividade para 2018.”

Já Rodrigo Alves de Melo, economista-chefe da Icatu Vanguarda, acredita que o Copom subiu “um pouco” o tom ao classificar o comportamento da inflação como “favorável”. No comunicado anterior, a expressão usada era “bastante favorável”. Com isso, diz, o comitê prepara o mercado para o fim do ciclo. Ainda assim, o economista mantém a projeção de uma taxa Selic em 6,75% no início de 2018.

O comunicado voltou a alertar, porém, que essa sinalização dependerá de a conjuntura econômica evoluir como o esperado. “O Copom ressalta que o processo de flexibilização continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, de possíveis reavaliações da estimativa da extensão do ciclo e das projeções e expectativas de inflação”, diz o documento.

O cenário básico descrito pelo Copom inclui uma recuperação gradual da atividade, um cenário internacional positivo para economias emergentes e uma inflação “favorável”, com núcleos de inflação “confortáveis”. Nessas condições, o BC prevê que a inflação ficará em 4,3% em 2018, ano que é o alvo principal da política monetária, se os juros básicos caírem a 7% ao ano em dezembro e permanecerem nesse patamar ao longo de 2018, como preveem os analistas do mercado financeiro.

O Copom vê dois riscos positivos que podem fazer a inflação ficar menor do que o cenário básico traçado e, em tese, abrir espaço para juros menores que o previsto: “possíveis efeitos secundários do choque favorável nos preços de alimentos e da inflação de bens industriais em níveis correntes baixos”; e “propagação, por mecanismos inerciais, do nível baixo de inflação pode produzir trajetória prospectiva abaixo do esperado”.

Por outro lado, vê dois riscos negativos que poderiam fazer a inflação ficar mais alta do que o esperado e, assim, exigir uma política monetária mais dura. O primeiro deles diz que “uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária”. Para o Copom, “esse risco se intensifica no caso de reversão do corrente cenário externo favorável para economias emergentes”.

O Banco Central vem cortando os juros básicos para estimular a economia desde outubro de 2016, quando estavam em 14,25% ao ano, depois que garantiu a queda da inflação a níveis menores do que a meta, de 4,5%. Nos 12 meses encerrados em setembro, a inflação chegou a 2,54%, e o Copom prevê que vai subir a 3,3% no fim do ano.

O Comitê reforçou, no comunicado, a mensagem de que a atual conjuntura econômica demanda política monetária “estimulativa”, ou seja, com juros abaixo da chamada taxa “estrutural”, que é aquela que em teoria mantém a economia em pleno emprego e a inflação na meta. O BC também repetiu que “o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira contribui para a queda da sua taxa de juros estrutural”. A autoridade não divulgou qual seria essa taxa, mas mencionou que as estimativas para ela são “continuamente reavaliadas”.

Ao divulgar sua decisão, o colegiado repetiu que os indicadores econômicos são compatíveis com o cenário de recuperação gradual da economia brasileira. “O cenário externo tem se mostrado favorável, na medida em que a atividade econômica global vem se recuperando sem pressionar em demasia as condições financeiras nas economias avançadas. Isso contribui para manter o apetite ao risco em relação a economias emergentes”, destaca o texto.