Por Thais Carrança – Valor Econômico

A energia elétrica pode ser a principal pressão inflacionária num 2018 de preços ainda benignos, avaliam economistas. A elevação de preço da energia, em consequência do baixo nível dos reservatórios hidrelétricos e do maior acionamento de usinas térmicas, também pode prejudicar a recuperação da economia, caso indústrias eletrointensivas deixem de produzir para importar, como ocorreu em 2014.

Na sexta-feira, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) admitiu que pretende revisar a metodologia das bandeiras tarifárias, para refletir melhor o custo de geração térmica. A energia elétrica já é um dos componentes que mais pesou sobre a inflação em 2017, com alta de 5,8% no acumulado do ano até setembro, contra avanço de apenas 1,78% do IPCA.

“Olhando pela inflação, certamente a energia pode ser o mais preocupante”, afirma Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados. “Não parece haver espaço para outras pressões. Alimentos estão sob controle, com estoques bem elevados, e a economia ainda terá capacidade ociosa em 2018, mas a energia pode ser um choque que pode se juntar a uma demanda crescendo em um ritmo mais forte do que o mercado acredita.”

A MB Associados projeta o PIB em 2018 entre 3% e 4%, acima do consenso do mercado, que está em 2,5%, de acordo com o boletim Focus. Ainda assim, Vale acredita que a inflação no ano que vem deve convergir para próximo da meta, encerrando o ano em 4,2% – o centro da meta é de 4,5%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Essa também é a visão de Márcio Milan, analista de inflação da Tendências Consultoria. “Devemos ter no ano que vem um cenário de preços livres bastante confortável, que garante uma inflação próxima ou até abaixo da meta”, prevê o economista. Segundo ele, isso se explica por algum efeito defasado da demanda escassa, pelos elevados estoques em alimentos e o cenário de câmbio estável, pelo menos até as eleições. Para 2018, a consultoria projeta o IPCA em 4,1%.

Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre-FGV, avalia que, se a energia elétrica permanecer em patamar de preços elevado por muitos meses, as indústrias eletrointensivas – setores como o de alumínio, aço e petroquímico – podem deixar de produzir no Brasil para importar. O efeito inflacionário também poderia reduzir a renda disponível das famílias, prejudicando a recuperação do consumo, e levando o BC a elevar juros.

Estudo da FGV aponta que, em 2014 – quando o preço da energia elétrica se manteve elevado o ano todo e se discutia a possibilidade de racionamento em 2015 – cerca de 10% a 20% da frustração do PIB se deveu ao preço da energia, pois setores industriais reduziram produção, elevando a importação. Naquele ano, a projeção para a alta do PIB em janeiro era de 2%, e o indicador fechou o ano com avanço de apenas 0,5%.

“Setores eletrointensivos, em qualquer momento de energia muito cara, deixam de produzir para importar. Se o PLD [Preço de Liquidação das Diferenças, referência no mercado de energia elétrica de curto prazo] continuar acima de R$ 400 por vários meses, há um risco de se repetir o que aconteceu em 2014”, afirma.