Por Sergio Lamucci – Valor Econômico

O crescimento será mais sólido em 2018, devendo atingir 3%, num processo liderado pelo consumo das famílias, estima David Beker, chefe de economia e estratégia do Bank of America Merrill Lynch no Brasil. Beker diz que permanecem elevadas as incertezas em relação às eleições e ao avanço da agenda de reformas que melhorem a situação das contas públicas, o que tem impacto sobre o investimento. “Ainda há muita coisa a fazer na parte fiscal.”

Beker elevou a projeção para o crescimento neste ano de 0,6% para 1%, depois da divulgação do resultado do PIB do terceiro trimestre. De julho a setembro, a economia avançou 0,1% sobre os três meses anteriores, alta pequena, mas o avanço do primeiro trimestre foi alterado de 1% para 1,3% e a do segundo, de 0,2% para 0,7%, o que elevou o nível do PIB.

Beker manteve a estimativa para 2018 em 3% e divulgou pela primeira vez o número esperado para 2019, 3,5%, o que pressupõe a continuidade da orientação da política fiscal e do compromisso com a agenda de reformas no novo governo.

No curto prazo, Beker vê um cenário benigno, com a recuperação cíclica da atividade em curso. A inflação deve seguir tranquila, fechando em 3,3% neste ano e 3,9% no ano que vem, num ambiente de grande ociosidade na economia. Ele acredita que o Comitê de Política Monetária (Copom) vai reduzir a Selic de 7,5% para 7% ao ano, vendo espaço para dois cortes de 0,25 ponto nas duas primeiras reuniões de 2018. Com isso, a taxa cairia para 6,5%, nível em que terminaria o ano que vem. O banco trabalha com um quadro internacional tranquilo em 2018.

A retomada vai ser puxada pelo consumo das famílias, prevê. Os números do mercado de trabalho têm sido melhores do que se esperava, ao mesmo tempo em que as condições de crédito tornam-se menos apertadas. O desemprego em queda e o quadro ainda benigno para a inflação devem ajudar na recuperação do poder de compra do consumidor, diz, observando que os salários reais tendem a seguir em alta.

O quadro para o investimento é menos favorável, embora a formação bruta de capital fixo (FBCF, medida do que se investe em máquinas e equipamentos, construção civil e inovação) também deva crescer em 2018, avalia o economista. Para ele, a retomada pós-recessão deve impulsionar investimentos de manutenção. Esforços de ampliação da capacidade produtiva, porém, devem esperar as eleições, diz Beker. Segundo ele, as incertezas sobre o pleito do ano que vem aumentam as incertezas sobre a possibilidade de um governo reformista ser eleito, o que afeta as perspectivas para a FBCF.

O cenário fiscal segue difícil, segundo Beker. As dúvidas sobre o quadro eleitoral causam interrogações sobre como será a condução das contas públicas a partir de 2019. No curto prazo, a combinação de mais crescimento com juros mais baixos contribui para evitar deterioração mais acentuada da dívida pública, mas é algo que não resolve o imbróglio fiscal. Para ele, é indispensável a aprovação da reforma da Previdência e de outras medidas para estabilizar o endividamento como proporção do PIB.

O economista diz que o melhor é aprovar as mudanças no sistema de aposentadorias no atual governo, embora avalie que um crescimento de 3% em 2018 é possível mesmo sem que isso ocorra. “No entanto, seria muito mais desafiador”, diz Beker, acrescentando que, nesse caso, seria importante o governo mostrar algumas medidas paliativas para indicar a continuidade do ajuste. A aprovação da reforma da Previdência até 2019, contudo, é crucial, ou o crescimento tende a ser bem menor que os 3,5% projetados por ele.

Beker projeta leve melhora no déficit primário do setor público consolidado em 2018, estimando rombo de 2,3% do PIB, um pouco menor que os 2,5% do PIB previstos para este ano. O resultado primário exclui gastos com juros. A recuperação ajuda na arrecadação, mas o quadro fiscal continua complicado do ponto de vista estrutural, dado o grau de rigidez do Orçamento, uma vez que as despesas obrigatórias são cerca de 80% do total, de acordo com Beker. Ele espera que a dívida bruta termine 2017 em 75,9% do PIB e 2018 em 81% do PIB.

Para as contas externas, o economista vê um quadro tranquilo. Com crescimento mais forte da demanda doméstica, a expectativa é de redução do saldo comercial de US$ 64 bilhões neste ano para US$ 55 bilhões em 2018, o que levará a alta do déficit em conta corrente de 0,6% para 1,3% do PIB, nível que não preocupa.

Beker observa que, em 2014, o indicador estava na casa de 4% do PIB. Com contas externas robustas, ele não espera grandes pressões de desvalorização sobre a moeda, apostando que o dólar terminará 2017 em R$ 3,15 e, em 2018, em R$ 3,30, mas ressalta que incertezas eleitorais podem causar volatilidade no câmbio.