Por Roberto Rockmann – Valor Econômico

29/03/2018 – 05:00

Já aplicada nos setores de água e energia elétrica, a internet das coisas (IoT) tem trazido inovações para concessionárias públicas e seus usuários. No interior de São Paulo, surgiu há dois anos a Stattus4, uma startup que oferece um método inovador às empresas que atuam na área de saneamento.

O método tradicional, empregado por diversas empresas pelo país afora, consiste em levar a campo geofonistas que andam com o geofone, uma barra de ferro com uma haste de escuta na ponta que permite ao profissional escutar a rede subterrânea de água, já que quando o líquido escapa ele produz um som específico. A ideia da empresa de Sorocaba foi mudar esse equipamento a partir de um sistema eletrônico integrado com internet das coisas.

Em um projeto piloto em Votorantim (SP), área de concessão da Águas do Brasil, a empresa utiliza um geofone com uma espécie de ouvido biônico para fazer essa detecção com mais precisão, com base em banco de dados e análise de áudio em aplicativos de som. A haste eletrônica conta com um sensor pelo qual o profissional pode encostar na rede subterrânea e 15 segundos depois vem a análise do som.

Cada área da concessão é mapeada, seus dados ficam armazenados em nuvem e depois são classificados, dependendo do som, se há um risco potencial ou não de vazamento. “Uma cidade como Votorantim, com 150 mil habitantes, levaria dois anos para ser coberta com dois geofonistas, hoje eles podem fazer o mesmo trabalho em apenas três meses, com um banco de dados que pode proporcionar mais eficiência nas próximas vezes”, aponta Marilia Lara, sócia da empresa.

A inovação será testada em Campo Grande (MS), concessão da Aegea, e em Salvador e Feira de Santana, da estatal baiana Embasa. “Teremos ainda uma parceria com a Sabesp para fazer alguns testes na região metropolitana de São Paulo”, diz Marilia. A empresa foi premiada com sua tecnologia e a apresentou no Fórum Econômico da América Latina neste mês em São Paulo. “Cerca de 95% do saneamento está em empresas públicas, que fazem seus contratos pela lei de licitação, o que complica a contratação de novas tecnologias, temos buscado mais contatos com o setor privado”, diz. A intenção é fechar quatro contratos este ano. O Brasil desperdiça, em média, 37,5% da água distribuída pelas concessionárias de água e esgoto.

No setor elétrico, a internet das coisas tem ganhado espaço pelas redes inteligentes. No Nordeste, a Coelba, do grupo Neoenergia, desenvolveu sensores inteligentes por meio de um projeto inserido no programa de Pesquisa & Desenvolvimento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O equipamento, feito em parceria com os Institutos Lactec e a fabricante Tecsys, foi resultado de investimentos de R$ 7 milhões. Capaz de medir a corrente de cada fase em um alimentador, ele registra todas as perturbações que acontecem em um ponto. O sensor consegue fazer um monitoramento que permite o envio de informações em tempo real sobre anormalidades, como uma queda de galhos de árvore.

“Ele monitora e verifica se tem anormalidade. Havendo anormalidade, ele manda essa informação para um centro de controle que aciona turmas para fazer o reparo na rede de distribuição”, explica José Brito, gerente corporativo de P&D do Grupo Neoenergia.

Um dos maiores projetos pilotos em andamento de smart grid iniciou-se em janeiro, quando a AES Eletropaulo deu partida na substituição de medidores tradicionais por inteligentes em Barueri (SP). Atrasada em dois anos, por demora na homologação dos equipamentos, a iniciativa instalou 4.500 medidores, permitindo a leitura remota de 1500 clientes. A intenção é de que até o início do segundo trimestre pouco mais de dez mil medidores já tenham sido instalados.