Por Alessandra Saraiva – Valor Econômico

A inflação apurada pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) subiu de 0,24% em agosto para 0,62% em setembro – a maior taxa desde dezembro de 2016 (0,83%). Mesmo com a alta no mês passado, o indicador acumula deflação de 2,03% no ano e de 1,04% em 12 meses. Itens agrícolas e combustíveis mais caros no setor atacadista levaram ao resultado, segundo o superintendente-adjunto para Inflação do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), Salomão Quadros.

No caso de combustíveis, o comportamento é resultado da mudança na postura da Petrobras de reajustes mais frequentes nos preços dos derivados de petróleo. Ele afirmou que chegou ao fim o período de alimentos mais baratos de forma generalizada no atacado, como ocorreu em julho e de agosto. O indicador deve subir nos próximos meses, mas ele não acredita que a taxa ultrapasse 1%.

No Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que representa o setor atacadista e tem 60% de peso nos IGPs, a inflação saltou de 0,26% para 0,97% entre agosto e setembro. A variação no segmento combustíveis e lubrificantes para produção passou de -0,23% para 0,55% no período. A influência de itens agrícolas também foi intensa. Dos cinco itens que mais impactaram a alta do atacado, três eram de origem agropecuária: bovinos (7,48%), milho em grão (9,39%) e soja em grão (2,39%).

“Algumas das razões da aceleração de preços do atacado eram mais ou menos previsíveis. Os aumentos dos combustíveis, por exemplo. Que eles teriam impacto relevante no IGP-DI, isto já estava meio estabelecido”, notou. “No caso dos alimentos, não era possível que os preços continuassem para sempre em patamar baixo”, disse. “Recomposições e repasses de preços recomeçam a tomar corpo.”

O movimento de saída de deflação dos alimentos também se fez sentir no varejo. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), 30% dos IGPs, passou de 0,13% para -0,02% entre agosto e setembro, principalmente por conta de tarifa de eletricidade residencial mais barata (-3,31%). No entanto, a deflação na Alimentação junto ao consumidor diminuiu de ritmo (de -0,83% para -0,48%) no mesmo período.

Quadros diz que não há sinais no IGP-DI que possam indicar descontrole inflacionário. Citou o núcleo da inflação varejista, usado para mensurar tendências e que passou de 0,14% para 0,28%. “Um núcleo de 0,14% é anormalmente baixo e não reflete realidade de nossa inflação. E um núcleo de 0,28% por mês, se colocarmos em taxa de 12 meses fica em 3,6% ao ano”, comentou, acrescentando que é patamar muito baixo.

“Não vamos ficar mais com IGPs negativos”, admitiu. “Mas não vejo com preocupação este número [de setembro], como se fosse indicativo de aceleração perigosa de preços.”

No varejo, a energia elétrica mais barata ajudou a reduzir os preços em habitação (0,23% para -0,40%) entre agosto e setembro. Também houve decréscimos nos preços de transportes (1,46% para 0,50%) e de comunicação (0,05% para -0,02%). Já o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) desacelerou de 0,36% para 0,06% entre agosto e setembro.