Por Manoel Pires –  Valor Econômico

O IBGE divulgou que o PIB do segundo trimestre cresceu 0,2% em relação ao trimestre anterior. Pelo lado da demanda, o destaque foi o consumo das famílias e o do governo, que cresceram 0,1% e 0,5%, respectivamente. O destaque negativo foi a forte queda do investimento (-1,8%), que permanece no mesmo nível de 2009.

Pela oferta, os destaques positivos foram os serviços e a extração mineral enquanto a construção civil continua em queda. A construção apresentou queda em 10 dos últimos 14 trimestres. A indústria de transformação acelerou a queda na margem de -0,4% para -0,8%. De certa forma, os números de atividade confirmam tendências observadas em trimestres anteriores.

Uma parte da economia se recupera da recessão, e a outra parte ainda sofre com suas sequelas e não dá sinais de retomada. De acordo com a SPE/MF, o crescimento brasileiro foi o pior em relação aos principais países comparados.

A greve dos caminhoneiros produziu uma queda substancial da atividade no trimestre. Outros fatores refletem questões mais permanentes e também afetarão o terceiro trimestre. O primeiro é a percepção de que o governo se fragilizou demais. O segundo fator é a incerteza eleitoral que produz dúvidas sobre a condução da política econômica e de que forma a agenda do reequilíbrio fiscal será conduzida. O terceiro decorre da reversão do cenário externo, que resultou em um aperto das condições financeiras. Enquanto os dois primeiros fatores podem ser eliminados após as eleições, não é possível prever quando as condições financeiras internacionais serão revertidas. A atuação do Banco Central será importante para atenuar os efeitos dessas incertezas.

O saque dos saldos do PIS tende a produzir efeitos positivos no terceiro trimestre. Essa medida tem efeito semelhante ao que observamos no caso do FGTS por atuar na direção de expandir a demanda agregada, mas de magnitude inferior pelo menor montante liberado para as famílias.

A expectativa é que o crescimento se acelere para 2,5% no próximo ano. De todo o modo, a recuperação econômica é bastante lenta. De acordo com as projeções do Ibre, só em 2020 devemos recuperar o nível do PIB anterior à crise. A principal explicação está na lentidão da retomada do emprego e do crédito. Os dados referentes ao mercado de trabalho são bastante preocupantes. O emprego formal continua em queda. O subemprego e o desalento aumentam. A massa salarial real tem apresentado queda em 2018.

O mercado de crédito, por sua vez, apresenta recuperação bastante gradual. A agenda governamental não conseguiu corrigir os principais entraves à expansão desse mercado. O cadastro positivo e nova lei de falências, que só produziriam efeitos de longo prazo, não foram aprovados. A agenda de redução do spread bancário ainda não surtiu os efeitos desejados, e o BNDES continua se desalavancando de forma exagerada, voltando a desembolsos nos níveis dos anos 1990. O governo acena com medidas de potencial mais imediato como o consignado do FGTS e a ampliação dos limites de operação de financiamento imobiliário com recursos desse fundo.

A construção civil possui elevado potencial de geração de empregos, mas ainda sofre com as consequências da crise. Avançar na agenda desse setor retomando obras públicas, acelerando as concessões de infraestrutura, aperfeiçoando a regulação seguem sendo iniciativas importantes para a retomada do crescimento. É necessário reduzir a insegurança jurídica causada pelo distrato e reorganizar a legislação sobre acordos de leniência.

Muito tem se falado sobre a importância das reformas: Previdência, tributação, regras fiscais, funcionamento do Estado e do mercado de crédito e juros. As condições econômicas parecem favoráveis a um ciclo reformista mesmo no momento que as finanças públicas mais parecem um campo minado a ser desbravado pelo próximo governo. Veremos o que a política permitirá fazer.

Manoel Pires é pesquisador associado do Ibre/FGV