Por Carolina Mandl e Daniela Meibak – Valor Econômico

Se ainda está difícil vislumbrar com nitidez o rumo que os negócios tomarão neste ano, não faltam bons motivos para os bancos de investimentos comemorarem os feitos de 2017. Pelos cálculos da Dealogic, empresa que compila dados do mercado financeiro, a receita das instituições financeiras com serviços prestados a empresas na assessoria a fusões, aquisições, ofertas de ações e de dívida alcançou US$ 890 milhões em 2017, maior cifra desde 2012 e 74,9% superior à do ano anterior.

“Foi o primeiro ano que aproveitamos para valer a circunstância macroeconômica do mundo, com as taxas de juros baixas na Europa e nos Estados Unidos. Este cenário já existe há algum tempo, mas ainda tínhamos uma forte crise interna, por isso não aproveitamos antes”, diz Alberto Fernandes, vice-presidente do Itaú BBA.

As três principais atividades dos bancos de investimentos – coordenar ofertas de ações, emissões de dívida e operações de fusões e aquisições – mostraram crescimento em relação ao ano passado, de acordo com os volumes de negócios apurados pela Dealogic. “Apesar de o destaque ter ficado com as ofertas de ações, ao contrário de outros anos, 2017 contou com a contribuição de vários produtos”, diz Renato Ejnisman, diretor-geral do Bradesco BBI.

Os IPOs (ofertas iniciais de ações, na sigla em inglês) e os follow-nos (subsequentes) somaram R$ 41,9 bilhões em 27 transações neste ano, o que fez de 2017 o ano mais ativo para as emissões de ações desde 2009. Só em estreias de companhias na bolsa de valores foram dez transações. A maior delas ficou com a BR Distribuidora, cujo IPO movimentou R$ 5 bilhões.

A volta das ofertas de ações no Brasil contribuiu para engordar as comissões recebidas pelos bancos. Hans Lin, responsável pelo banco de investimento do Bank of America Merrill Lynch (BofA), conta que a receita da instituição foi puxada sobretudo pela área de ações, responsável por 40% das comissões deste ano.

Não foi, porém, sem uma certa queda de braço que essas ofertas foram concluídas no ano passado. Os investidores se mostraram bastante seletivos, o que levou algumas companhias a abortarem seus planos de ir a mercado, como aconteceu com a locadora de veículos Unidas, com a empresa de tecnologia Tivit e com a elétrica Neoenergia.

Do lado dos bancos, o ano passado também foi marcado por uma disputa muito grande entre as instituições para ganhar mandatos. Para acomodar os bancos, algumas companhias chegaram a contratar até nove instituições para coordenar uma oferta de ações, fugindo do cenário considerado ideal, de no máximo quatro.

Para algumas instituições, essa realidade de 2017 tem a ver com o fato de as empresas terem se tornado mais dependentes do crédito durante a crise econômica que o país atravessou, o que favorece bancos com balanços mais robustos, como Bradesco BBI, Itaú BBA e Santander.

Por outro lado, esses bancos também desenvolveram serviços de assessoria financeira mais sofisticados. “Ninguém vai ganhar uma transação se não tiver uma plataforma para executá-la”, diz Rafael Noya, diretor responsável pelo relacionamento com os clientes do banco de investimento do Santander.

Em dívida, os investidores se mostraram ávidos por retornos mais elevados, tanto no mercado doméstico quanto internacional. Ao todo foram US$ 58,5 bilhões em emissões de renda fixa, valor 36,5% maior que em 2016.

O maior apetite dos investidores favoreceu a captação até de nomes com perfil de crédito mais arriscado, e não apenas de emissores frequentes, como foi o caso da elétrica Cemig, que fechou no fim de novembro a emissão de US$ 1 bilhão em bônus de sete anos. Os passivos a vencer no curto prazo e a falta de acesso à linhas bancárias, no entanto, fizeram com que a empresa pagasse caro para isso – um retorno ao investidor de 9,5% ao ano.

Em fusões e aquisições, as transações somaram US$ 52,5 bilhões, com 399 negócios. Apesar do crescimento de 14,8% no volume movimentado, o número de fusões e aquisições caiu ante os 470 de 2016. Os maiores volumes refletem um ano marcado por grandes transações, como a compra de 49,9% da XP Investimentos pelo Itaú Unibanco, por R$ 6,3 bilhões, e da Eldorado pela Paper Excellence, avaliada em R$ 15 bilhões.

“Diferentemente de 2016, que foi marcado por negócios em óleo, gás e energia, 2017 teve transações em setores variados.

Foi um ano bem mais normal, o que mostra a confiança do investidor na recuperação econômica”, diz Bruno Amaral, responsável pela área de fusões e aquisições do BTG Pactual.

Os bons números do ano levaram até a alguns reforços de equipes pontuais. O BofA trouxe Diogo Aragão, do Credit Suisse, para fortalecer a equipe de fusões e aquisições. O Banco do Brasil, um dos principais estruturadores de dívida, ampliou o time de mercado de capitais em 20%. “O banco tem falado da importância do mercado de capitais no cenário de desintermediação financeira, com as companhias buscando substituir o crédito [por outras fontes de recursos]”, afirma Fernando Florêncio Campos, diretor de mercado de capitais e infraestrutura do BB.

Para 2018, ninguém arrisca dizer que o ano será de ganhos mais polpudos por conta principalmente da incerteza em torno da eleição presidencial. O começo de ano, contudo, promete ser bastante agitado, conforme mostram as consultas feitas aos bancos até agora. Pelas recomendações dos banqueiros, as companhias devem antecipar as ofertas de ações e de dívida – mais suscetíveis à volatilidade – para os primeiro cinco meses do ano, com o objetivo de fugir de uma eventual turbulência trazida pelo cenário político.