Por Em Movimento – Publicado no Portal G1

02/02/2018 15h40

Mesmo com muito a ser feito no país, administrações locais mostram avanços em serviços de água e esgoto

Em termos de saneamento básico, o Brasil tem um caminho longo a percorrer. Afinal, cerca de 35 milhões de pessoas ainda não têm acesso à água potável, e o tratamento de esgoto chega a menos de 50% da população. Mesmo assim, algumas localidades se destacam pelas ações positivas nessa área: são casos de sucesso que podem servir de inspiração para mais avanços em um setor fundamental para a saúde e a qualidade de vida das pessoas.

Franca, no interior de São Paulo, é um desses exemplos. Com pouco mais de 300 mil habitantes, ela ocupa há quatro anos a primeira colocação do Ranking do Saneamento das 100 Maiores Cidades, elaborado anualmente pelo Instituto Trata Brasil, que avalia a evolução dos indicadores nos maiores municípios do país. Além disso, ela ficou em 5º lugar no Ranking da Universalização do Saneamento, elaborado em 2017 pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), com base em números de 231 cidades brasileiras.

Nos últimos anos, Franca praticamente universalizou o fornecimento de água, assim como a coleta e o tratamento de esgoto. Segundo a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), os investimentos na cidade foram de R$ 300 milhões desde 2012, principalmente nas obras do Sistema Sapucaí, novo sistema local de produção de água.

Mas, para a empresa, só os investimentos não explicam a boa situação do saneamento básico de Franca. A Sabesp os vê como reflexo de políticas de longo prazo adotadas por diferentes administrações, que priorizaram planejamento e gestão.

“Esses fatores, aliados a equipes permanentemente treinadas e comprometidas em melhorar a qualidade de vida das pessoas e as condições ambientais, têm possibilitado manter os excelentes indicadores de saneamento em Franca ao longo dos anos”, afirma o superintendente da Sabesp para a região, Gilson Santos de Mendonça.

Um resultado direto desses números está na saúde da população. Franca teve 460 internações por doenças diarreicas entre 2007 e 2015, enquanto Ananindeua (PA), a pior colocada no ranking do Trata Brasil, teve 36.473 (um número 79 vezes maior).

Exemplo no Triângulo Mineiro

A menos de 300 km de Franca fica Uberlândia, uma das cidades mais importantes do Triângulo Mineiro, com mais de 600 mil habitantes. Lá, o índice de coleta de esgoto é de 97,23%, sendo que 98% dele é tratado. Já o abastecimento de água chega a 100% da população. As perdas na distribuição caíram, segundo o Instituto Trata Brasil, de 28,4% em 2016 para 25,54% em 2017.

O DMAE (Departamento Municipal de Água e Esgoto) é responsável pelo saneamento básico em Uberlândia. De acordo com a empresa, um dos fatores que levam a esses resultados é o planejamento de longo prazo. Uma das suas principais obras hoje é a conclusão da estação de captação e tratamento de água Capim Branco. Quando pronta, ela terá capacidade de atender 3 milhões de pessoas, mesmo que a cidade tenha hoje pouco mais de 20% dessa população.

Outro diferencial, segundo a empresa, é a busca pela economia. Um exemplo é o uso, desde 1970, de adutoras produzidas por uma fábrica própria, o que reduz custos. Além disso, o DMAE emprega turbinas hidráulicas nos sistemas de produção e tratamento de água. Com isso, a energia elétrica consumida é de apenas 8% do valor arrecadado, contra uma média de 30% em outras empresas do setor.

De acordo com a empresa, R$ 385 milhões foram investidos em água e esgoto em Uberlândia entre 2005 e 2017.

Maringá: foco em gestão

Maringá é a terceira maior cidade do Paraná, com quase 400 mil habitantes. Com 100% da população atendida por fornecimento de água e coleta de esgoto, restam apenas pouco mais de 14 mil pessoas sem tratamento de esgoto, ou 3,7% dos moradores.

As perdas de água chegam a 22,51%, bem abaixo da média nacional de 37%. Com esses números, Maringá fica em 5º no ranking do Instituto Trata Brasil e em 4º no ranking de universalização do saneamento da Abes.

Esses resultados se devem em parte aos investimentos realizados no município. De acordo com a Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná), Maringá recebeu R$ 250 milhões em recursos para água e esgoto desde 2011.

Segundo o diretor-presidente da Sanepar, Mounir Chaowiche, o foco na administração por resultados também é fundamental para o sucesso do saneamento básico em Maringá, com a análise periódica de indicadores, a identificação de desvios e o monitoramento de ações. Além disso, a Sanepar adotou um Modelo de Excelência em Gestão (MEG), que visa a capacitação de seus funcionários e a busca por processos padronizados e o aumento da eficiência.

Sucesso na região Norte

Das regiões do Brasil, o Norte tem os piores índices de atendimento em saneamento básico. Em 2015, a água tratada chegava a 56,9% da população, enquanto a coleta de esgoto alcançava 16,42% e o tratamento de esgoto apenas 8,66%. No entanto, uma cidade da região se destaca pelos avanços no setor: é Palmas, no Tocantins, a capital mais jovem do país. Lá, entre 2012 e 2015, o saneamento deu um salto, praticamente universalizando o fornecimento de água (de 91,06% da população para 99,99%) e aumentando tanto a coleta de esgoto (de 50,99% para 71,08% dos moradores) quanto o seu tratamento (de 32,64% para 45,15%).

Os serviços de saneamento na cidade estão a cargo da concessionária BRK Ambiental, que investiu R$ 300 milhões em Palmas desde 2012. Para o diretor da BRK Ambiental no Tocantins, Denis Lacerda, o fato dos serviços de água e esgoto na capital serem fornecidos por uma empresa privada facilita a obtenção de bons resultados.

“Promover o acesso ao saneamento no Brasil não é uma tarefa fácil, dado o volume de investimentos necessários para que a questão seja solucionada, e a presença de investidores privados neste mercado nos parece essencial”, afirma. Hoje, 15% da população com acesso a água e esgoto no Brasil é atendida por empresas privadas.