Jéssica Antunes – Jornal de Brasília

02/11/2017

A dança de guardas-chuva nos dias cinzas é alento depois de mais de três meses sem uma gota cair no céu. Há quase uma semana, precipitações diárias são registradas Distrito Federal, e, segundo o Instituto Brasileiro de Meteorologia, pode haver chuvas acima da média em novembro. Mesmo com o retorno das precipitações, a Barragem do Descoberto continua em queda: ontem, o nível atingiu o menor índice da história, de 6%. Para especialista, recuperação se dá com meses de chuva constante.

As previsões são de chuva generalizada na capital, com 231 mm de precipitação, mas não é possível estimar a intensidade que chegará à barragem. Em maio, a Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do DF (Adasa) publicou uma curva de acompanhamento para monitorar o nível dos reservatórios.

Para outubro, esperava-se nível mínimo de 9%. A realidade, porém, foi ainda mais crítica. Com calor recorde e evaporação 70% acima da média, o mês encerrou com 6,2% do volume – e continua caindo. Está em análise um plano para ampliação do racionamento. Segundo a Adasa, “só entrará em vigor quando a Caesb achar necessário, dependendo das condições climáticas dos próximos dias”.

As previsões da agência são de aumento semanal no reservatório, fechando o mês em 12%. Até 2018, a expectativa é de reação para a maior fonte de água do DF: o ano deve virar com 17%. As metas são referência, “mas as decisões sobre a adoção de medidas mais restritivas dependem da análise de uma série de fatores, incluindo previsão de chuva e consumo da população”.

Perspectivas

A recuperação da bacia do Descoberto depende de pelo menos 400 mm de chuvas, segundo Henrique Marinho Leite Chaves. Professor do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília, o especialista afirma que são necessários de um a dois meses de chuvas regulares para que o nível do reservatório comece a subir. Isso, diz, será provável, caso as precipitações fiquem na média: “Se o comportamento for como o do último mês, abaixo do esperado, não será suficiente”.

O professor explica que primeiro o solo precisa ser umedecido, para depois chegar à água do subterrâneo, onde o recurso hídrico está esgotado com dois anos de chuvas abaixo da média. “O ideal era que chovesse nas bacias, mas não é o que necessariamente acontece”.

Para enfrentar a crise hídrica, a Câmara Legislativa autorizou o Governo de Brasília a contrair empréstimo de US$ 41,1 milhões (cerca de R$ 130 milhões) com organismos internacionais para o programa “Brasília Capital das Águas”. Os recursos devem ser destinados a projetos ambientais, formalizando o programa com ações de tubulação do Canal do Rodeador, em Brazlândia, e do Santos Dumont, em Planaltina, e obras na orla do Lago Paranoá.

O governo ainda terá de enviar pedido de financiamento à Secretaria do Tesouro Nacional, que dá o aval para a negociação. O processo ainda deve passar pela Procuradoria-Geral da Fazenda e ao Senado.

Obras para reforçar  o abastecimento

O Distrito Federal também ganhou reforço de até 726 litros por segundo para o abastecimento da população com captação de água do subsistema Bananal. O investimento é de R$ 20 milhões, do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste, do Banco do Brasil. Cerca de 200 mil pessoas serão beneficiadas. Na Estação de Tratamento de Água, o recurso do Ribeirão Bananal se mistura com o do Santa Maria-Torto.

No mês passado, teve início a captação de 700 litros de água por segundo do Subsistema do Lago Paranoá e já abastecem Asa Norte, Itapoã, Lago Norte, Paranoá, parte de Sobradinho II e Taquari. Há projeto licitado para captar, armazenar, tratar e distribuir água do Lago Paranoá de forma definitiva, uma obra orçada em R$ 480 milhões.

O Sistema Corumbá segue em obras e estrutura deve ficar pronta em abril de 2018, beneficiando inicialmente Gama e Santa Maria com 1,4 mil litros de água por segundo.