Empresa de água e esgoto dribla a crise fiscal do estado e se prepara para uma nova fase

Por Maurício Oliveira
Publicado em 16 ago 2018

Jorge Briard, presidente da Cedae: crescimento de 7,5% na receita em 2017, apesar da situação caótica do estado (Germano Lüders/EXAME)

No ano passado, o estado do Rio de Janeiro viveu o auge de sua crise fiscal. O rombo nas contas públicas foi resultado de uma série de encrencas, como a recessão, a queda na arrecadação causada pela baixa do preço do petróleo, as perdas com a corrupção e com a má gestão. O governo do estado não tinha dinheiro para pagar os salários dos servidores, os remédios dos hospitais públicos nem mesmo a gasolina das viaturas policiais. Para sair da situação de calamidade, a qual resultou na intervenção federal na área de segurança, o governo fluminense aderiu em setembro ao regime de recuperação fiscal, criado para socorrer estados em grave crise financeira.

Na prática, a União suspendeu a cobrança da dívida do Rio, da ordem de 30 bilhões de reais, e lhe deu aval para buscar empréstimos no mercado financeiro a fim de saldar algumas dívidas. Como parte do acordo, o Rio de Janeiro aceitou privatizar sua companhia de serviços de água e esgoto, a Cedae. O cronograma da privatização vem sendo cumprido à risca — a fase atual é a de modelagem do processo de leilão, que deverá ser realizado em 2019, apesar dos protestos de grupos contrários à venda da estatal.

Uma companhia no olho do furacão tende a paralisar seus projetos à espera de uma definição mais clara sobre o futuro. Não é esse o caso da Cedae. “Diante do quadro de crise que se configurou, havia dois possíveis caminhos para a Cedae: manter tudo como estava, em compasso de espera sobre o que viria no futuro, ou investir na melhoria da gestão, com base em um planejamento estratégico para fazer a empresa crescer e aprimorar seus serviços”, diz Jorge Briard, presidente da estatal. “Optamos pelo segundo caminho.” A decisão não poderia ser mais acertada, como mostram os números.

A Cedae terminou 2017 como a empresa com a melhor soma de indicadores no setor de infraestrutura. Sua receita, de quase 1,5 bilhão de dólares, foi 7,5% superior à do ano anterior. Em média, cada empregado gerou 129 300 dólares de riqueza no ano. É verdade que a companhia não conseguiu ficar imune à crise econômica. Seu lucro, de 112 milhões de dólares, foi 37% inferior ao do ano anterior. Com isso, a rentabilidade sobre o patrimônio caiu de 9% para 6%.

Mesmo em um ano de condições econômicas desfavoráveis, a Cedae — que atua em 64 dos 93 municípios do Rio, atendendo cerca de 11 milhões de pessoas — conseguiu cumprir obrigações e realizar investimentos. O exemplo mais notável é o Programa de Abastecimento de Água da Baixada Fluminense, criado para atender à demanda dos municípios da região que tiveram grande crescimento populacional nas últimas décadas. Uma das maiores obras de saneamento em curso no país, o programa está orçado em 3,4 bilhões de reais e deverá beneficiar 2,2 milhões de pessoas. Até o momento, 75% das obras da primeira fase foram realizadas, incluindo 100.000 ligações prediais, 800 quilômetros de troncos e rede de distribuição e 17 reservatórios.

Outro desafio para a Cedae, produtora de 60.000 litros por segundo de água potável, é reduzir os desperdícios na distribuição, causados por vazamentos e desvios. O índice atual de perdas no caminho entre a captação da água e a entrega aos clientes é de 30%, o dobro do considerado aceitável internacionalmente. Para evitar vazamentos, a empresa substituiu mais de 600 quilômetros de redes antigas por novas tubulações. Além disso, criou uma equipe para combater as ligações clandestinas. São iniciativas que, certamente, tornarão a Cedae mais atraente para os potenciais interessados quando a empresa for a leilão no ano que vem.