Por Edna Simão – Valor Econômico

14/12/2018 – 05:00

O presidente da Caixa Econômica Federal, Nelson Antônio de Souza, entregou à equipe de transição do novo governo um diagnóstico que aponta que a venda de participações em cinco subsidiárias da instituição pode render R$ 60 bilhões ao banco, incluindo tributos, até 2022. A projeção considera o repasse para a iniciativa privada de parte da Caixa Seguridade, Caixa Cartões, Caixa Loterias, Caixa Banco Digital e Caixa Gestão de Recursos. “Esse é um cálculo conservador. É o valor que essas empresas trariam de imediato para a Caixa Econômica”, frisou o presidente do banco em entrevista ao Valor.

O documento traça um cenário bastante positivo para o banco, que espera contribuir com R$ 800 bilhões para o país, valor que considera todas as operações feitas pela instituição e a venda de ativos. O banco deve fechar o ano com um lucro líquido recorde de R$ 15 bilhões e diz que a previsão de investimentos em habitação pode atingir a marca de R$ 343 bilhões de 2019 a 2022. A medida beneficiaria 2,6 milhões de famílias e geraria 6,9 milhões de empregos, segundo dados da Caixa.

Além disso, a Caixa trabalha com o cenário de que o FGTS vai repassar ao banco R$ 16 bilhões para saneamento básico e outros R$ 20 bilhões para infraestrutura em quatro anos.

Souza enumera as medidas adotadas pelo banco para melhorar a governança e a eficiência, assim como reduzir despesas, o que contribuiu para o enquadramento da instituição nas regras prudenciais de exigência de capital previstas no acordo de Basileia III.

O presidente da Caixa enfatizou que a venda de participação nas empresas – chamada por ele de “monetização de ativos” – deve ser mantida por seu sucessor, Pedro Guimarães, que assume o cargo com a tarefa de tocar o plano do ministro da Economia, Paulo Guedes, de privatizar áreas do banco que não estão relacionados a políticas públicas, mas podem despertar o interesse do investidor privado.

A Caixa já vem se preparando para adotar essas medidas por meio de criação de empresas específicas para serem privatizadas. “O programa que está chegando do novo governo é totalmente alinhando com o que a gente está trabalhando, principalmente na questão da monetização de ativos”, destacou Souza. “A gente já vem trabalhando na mesma linha [do que propõe a equipe de transição] desde o início de 2018”, complementou.

Com uma visão otimista em relação a 2019, o presidente da Caixa afirmou que o banco deve lançar uma concorrência no início do ano para concluir o processo de seleção do parceiro da Caixa Seguridade para os serviços de seguro habitacional e carta de crédito, automóvel e riscos patrimoniais. Neste ano, a Caixa Seguridade renovou sua parceria com a francesa CNP Assurances até 2041, para os ramos de seguro de vida e prestamista e de produtos de previdência, operação que envolveu o recebimento de R$ 4,65 bilhões. Ele lembrou ainda que foi adiado para 5 de fevereiro o leilão de concessão da Loteria Instantânea Exclusiva (Lotex), a “raspadinha”.

Na avaliação de Souza, a Caixa tem condições de criar outras empresas para depois negociar com a iniciativa privada, citando como exemplo uma companhia de microcrédito e outra para transferir ativos, como imóveis retomados. No caso da empresa que receberia ativos, o banco poderia repassar os imóveis retomados, que atualmente somam 46 mil unidades, para limpar seu balanço e abrir espaço para oferecer mais crédito. A Caixa provisiona 100% do valor de cada unidade habitacional retomada por falta de pagamento.

O banco está estudando uma alternativa para se desfazer desses imóveis e pode repetir a tentativa de leiloá-los no atacado. O modelo está sendo reavaliado porque a primeira tentativa não foi bem-sucedida, pois o deságio oferecido pelo banco foi considerado baixo pelos investidores e as unidades habitacionais estavam muito espalhadas pelo país.

O presidente da Caixa destacou que o banco tem capital suficiente para sustentar o crescimento da carteira de crédito. Neste ano, essa carteira deve ter expansão de 4%. No ano que vem, a instituição financeira tem condições e capital para registrar aumento de mais de 6%.

“Para 2019, nós queremos avançar mais e ter um crescimento maior do crédito. Queremos avançar em especial no crédito que dialoga com a Caixa”, afirmou Souza. A prioridade do banco será aumentar os empréstimos para micro e pequenas empresas e financiamentos habitacionais com recursos da caderneta de poupança, para atender a pessoa física de média e alta renda. “Vamos crescer mais, de forma prudente”, destacou.

Em 2016 e 2017, o banco se viu obrigado a desacelerar as operações de crédito para conseguir se ajustar às regras prudenciais de exigência de capital. Por isso, neste período, acabou optando por realizar, prioritariamente, empréstimos de baixo valor, como financiamentos do programa “Minha Casa, Minha Vida”, que tem uma exigência de capital menor. Agora a ideia é mudar isso.

Desde o ano passado, o Ministério da Fazenda passou a ser mais atuante dentro da instituição financeira, o que vem sendo feito por meio da presidente do conselho de administração, a atual secretária-executiva do ministério, Ana Paula Vescovi. A ideia era conter o crescimento desacelerado do crédito. O conselho vetou, por exemplo, a operação de aporte do FGTS na empresa, o que ajudaria o banco a se capitalizar e a cumprir regras prudenciais sem precisar desacelerar tanto o crédito.

Além disso, para impedir interferência política, foram promovidas mudanças no estatuto, como a determinação da escolha de vice-presidentes por empresa de recrutamento de executivos.

Souza ressaltou que a Caixa não tem mais problema de capital e chamou a atenção para o fato de que em setembro deste ano o índice de capital nível 1 estava em 13,3%, sendo que o mínimo exigido para 2018 é de 8,4% e para 2019, de 9,5%.

Neste ano, devido ao elevado lucro líquido do banco – que até setembro foi de R$ 11,5 bilhões – o governo federal não precisou devolver os dividendos repassados pela Caixa aos cofres públicos. Em 2019, o compromisso da instituição com o Tesouro é de repassar apenas o mínimo obrigatório de 25% do resultado.