Por Rodrigo Rocha e Ivo Ribeiro – Valor Econômico

12/03/2018 – 05:00

Dez meses após assumir o comando da maior operadora privada de saneamento do país, Teresa Vernaglia, presidente da BRK Ambiental, avança nas duas frentes de trabalho que traçou como mais relevantes para o início da gestão dos negócios – a difusão dos princípios de compliance do controlador e um plano de investimento de cinco anos. A antiga Odebrecht Ambiental, sob nova gestão e novo nome definiu, no fim de 2017, desembolso de R$ 7 bilhões. O principal objetivo do plano é dobrar a receita da companhia, tomando por base o valor de 2016 – R$ 1,6 bilhão.

A BRK é o resultado da aquisição pela Brookfield de 70% dos negócios brasileiros da Odebrecht Ambiental. O fundo FIFGTS detém os 30% restantes. A gigante canadense desembolsou US$ 768 milhões pela operação, anunciada em 2016 e concluída em abril de 2017.

A executiva, engenheira elétrica, assumiu a presidência em maio. Veio de uma carreira de 16 anos na AES Brasil, onde atuou em telecomunicações e energia. Antes, passou por Nextel e NEC. Vernaglia disse ao Valor que foi mantida quase a totalidade do corpo de funcionários, preservando todo o corpo técnico da empresa adquirida. Novo nomes vieram no corpo diretivo, inclusive com criação de novas diretorias, como Suprimentos, de Compliance, Relações Institucionais e Recursos Humanos. Também foi criada uma área para Segurança e Qualidade. O objetivo foi implantar um modelo de conformidade e gestão pretendidos pelos novos controladores, informou.

Com 5 mil funcionários espalhados por mais de 180 municípios onde a empresa atua, a BRK pretende adotar um novo modelo de relacionamento com entes públicos em um segmento que a operação é bastante municipalizada.
Constitucionalmente, o papel da gestão e regulação do saneamento é dos municípios. As empresas, privadas ou estaduais, só assinam contratos com prazo determinado. Em certos casos, até 45 anos.

“Nós temos uma empresa que já roda, que tem um corpo de funcionários altamente qualificado e capacitado, e o que
trouxemos de imediato foi uma governança muito forte para a companhia”, afirmou a executiva. “Dentro desse processo, um grande exercício que foi concluído em dezembro, depois dessa adequação, foi a aprovação do plano de investimentos pelo nosso conselho.”

Vernaglia explica que esse montante, com R$ 1,2 bilhão reservados já para 2018, será dividido em 80% para crescimento orgânico e o restante para expansão, abrangendo novos projetos. A estratégia da companhia, já definida no momento da aquisição do negócio, é se fortalecer exatamente em serviços públicos, saindo dos ativos industriais.
“Esse volume de investimentos que definimos para os próximos cinco anos, dada toda a perspectiva do mercado, é um cenário base. Há um potencial muito maior de crescimento. Nos organizamos para isso”, diz. Os R$ 7 bilhões têm como principal o chamado “ramp up” dos projetos, fase em que é exigida a parte mais expressiva dos aportes. Cinco a sete anos depois, entra na fase madura, quando a receita supera desembolsos.

A defesa da comandante da BRK é de que o setor de saneamento ainda necessita de um volume pesado de investimento. Levando em conta o Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), para atingir as metas de cobertura de água e esgoto até 2033 seriam necessários investimento da ordem de R$ 20 bilhões por ano.
Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, em 2016, apenas 51,9% do esgoto produzido no Brasil era coletado e 44,9% era coletado e tratado. Ou seja, há muito espaço para negócios a grupos privados, levando em conta a precária situação fiscal do setor público.

“Existe um déficit muito grande, existe um interesse privado, mas não estão sendo geradas situações para participação em licitações e concessões”, afirma a executiva. “Pouco mais de 300 municípios tem presença privada, desses mais de 180 estão com a BRK, é uma gota no oceano.”

De capital fechado, a BRK ainda não divulgou os resultados do ano passado. Em população atendida, a meta é subir de 15 milhões para 18 milhões de pessoas no período, dobrando a quantidade de concessões maduras. Atualmente, está presente em 12 estados. O maior grupo populacional atendido está na região metropolitana de Recife – mais de 4 milhões de pessoas. A companhia também é controladora de uma companhia estadual de saneamento, a Saneatins, que atende 76 municípios no Tocantins.

Uma forma de facilitar a abertura desse mercado seria com alterações no atual marco regulatório do setor de saneamento. Uma caminho seria a Medida Provisória que vem sendo organizada pelo governo, que obrigaria municípios a consultarem as empresas privadas quando da renovação dos contratos com as empresas estaduais.
“O déficit de saneamento é tão grande que há espaço para o público e para o privado. O desafio é pensar um modelo que dê ao privado segurança jurídica e regulatória, que hoje de fato é muito frágil. A MP tenta endereçar de alguma forma esse assunto”, defendeu a executiva. O texto está em discussão ministerial e deve ser enviado em breve ao Legislativo.