Por Juliana Machado e Lucinda Pinto – Valor Econômico

O Ibovespa até tentou apresentar uma recuperação, apoiado em um maior otimismo com a reforma da Previdência ontem, mas novas especulações e a piora do humor no fim do dia voltaram a abafar o ânimo dos investidores. O principal índice da bolsa de valores chegou a tocar uma máxima aos 74 mil pontos durante o dia, mas perdeu força ao longo do pregão e cedeu novamente ao ceticismo, acomodando-se no patamar dos 72 mil pontos perto do fim do pregão.

O mercado vem dando sequência ao movimento de volatilidade do último mês, com o tema da Previdência entrando em sua fase final. Entre a máxima de 74.166 pontos e a mínima de 72.319 pontos ontem, a oscilação foi de 2,55%, comportamento que, para especialistas, dá claras demonstrações de que cada sinalização em torno do assunto deve continuar pautando as decisões de investimento. No fechamento, o Ibovespa teve baixa de 0,74%, aos 72.546 pontos.

Operadores mencionam que o dia começou com uma maior confiança diante de indicações de que o PMDB poderia realizar uma reunião para fechar a questão em torno das mudanças nas regras de aposentadoria do Brasil e apoiar a pauta. No fim do dia, porém, voltaram a pesar no mercado sinalizações negativas sobre o assunto – forçando uma onda de vendas e a piora do desempenho das ações.

O Ibovespa começou a ampliar as suas perdas após o blog “Radar”, da revista “Veja”, informar que o líder do governo no Congresso, André Moura, admitiu a um deputado que, atualmente, não há nem 170 parlamentares dispostos a votar a reforma – número muito distante dos 308 necessários para que o projeto avance. “O mercado já vinha perdendo força durante a tarde e essa notícia causou uma nova saída do investidor e uma piora no movimento dos ativos”, disse um operador que preferiu não ser identificado.

A intensificação, no fim do dia, da performance em baixa das bolsas nos Estados Unidos, com Dow Jones e S&P 500 em queda e Nasdaq zerando ganhos, também acabou não fornecendo qualquer alento para os ativos locais de renda variável. Nesse cenário, papéis como o da Usiminas pioraram seu desempenho – caiu 4,23%, indo a R$ 8,60 no fechamento -, assim como o da CSN (-3,46%, a R$ 7,26) e o da Bradespar (-2,90%, a R$ 25,78).

Destaque importante do pregão foram as ações ordinárias da Vale, que registraram uma desvalorização de 2,20%, a R$ 36,02. O movimento financeiro do papel, de R$ 948,8 milhões, foi bastante forte no pregão e representou 15% de todo o giro do Ibovespa, mais do que o dobro da segunda colocada em liquidez, as ações preferenciais Petrobras (-1,10%, a R$ 15,31). A queda dos papeis da estatal de petróleo também ajudaram a compor o cenário negativo. A ação ordinária da estatal cedeu 1,06%, a R$ 15,92.

A tese de que o mercado de bolsa segue dividido quanto ao tema da Previdência também se expressa no movimento geral dos papéis do Ibovespa, com alguns oscilando muito acima do índice, enquanto outros operam com quedas muito mais fortes. Ontem, lideraram as altas as ações de Hypermarcas (3,24%, a R$ 34,76) e também da WEG (2,81%, a R$ 23,80).

Analistas de mercado também citam que o ambiente é de avaliações mistas pelos investidores ao ponderarem, por um lado, as ameaças para o andamento da pauta previdenciária no Congresso e o risco de rebaixamento da nota soberana brasileira em caso de não aprovação do projeto. Ao mesmo tempo, porém, trata-se de um momento em que o custo do risco país recua aos menores níveis em três anos.

“O mercado de bolsa está totalmente atribulado com a questão da Previdência, que trouxe algum otimismo mais recentemente, mas ainda não tem uma definição. Nesse ambiente, é difícil ter uma tendência”, afirma Ari Santos, da H. Commcor.