Por Chrystiane Silva e Juliana Machado – Valor Econômico

Em um dia em que a pressão por realização de lucros e a reunião de política monetária do Fed (banco central dos EUA) pesaram sobre o mercado financeiro, o Ibovespa conseguiu subir um pouco e fechar a sessão pela primeira vez acima de 76 mil pontos, batendo novamente seu recorde histórico. O índice chegou a cair mais de 1% durante o pregão, em um movimento de realização de lucros, uma dinâmica considerada natural pelos investidores depois das altas recentes da bolsa.

Durante o dia, o Ibovespa chegou a seu menor patamar, de 75.074 pontos, logo depois que o Fed concluiu sua reunião e sinalizou que pode elevar os juros em dezembro, além de anunciar que vai começar a reduzir o balanço da instituição a partir de outubro. “A elevação dos juros americanos neste ano não estava totalmente no preço dos ativos”, afirma Christian Laubenheimer, gestor da Platinum Investimentos.

O economista da Guide Investimentos, Ignácio Crespo, diz que embora se fale em uma normalização gradual do balanço do Fed, os investidores perceberam um tom mais “hawkish” (inclinado à redução de estímulos) do Fed. Para o gerente da mesa de operações da H.Commor DTVM, Ari Santos, essa queda do Ibovespa também ocorreu porque, depois de várias altas, alguns papéis abriram espaço para realização de lucros e troca de posições. “Mas a avaliação ainda é positiva com a economia interna, o que sustenta o mercado”, diz.

Mas logo depois de registrar a maior queda do dia, o Ibovespa retomou um movimento de recuperação e fechou a sessão com leve alta de 0,04% aos 76.004 pontos. Com esse resultado, o índice acumula alta de 7,3% no mês. O giro financeiro foi mais uma vez bastante robusto, de R$ 12,22 bilhões, sendo que 10% desse montante equivalem ao movimento com ações preferenciais da Petrobras, uma das responsáveis pela recuperação do índice.

As ações preferenciais da petroleira subiram 4,82% e registraram o maior volume financeiro do Ibovespa, de R$ 1,23 bilhão. Na terça, essas ações movimentaram R$ 539,40 milhões. As ações ordinárias da Petrobras subiram 3,8%. O movimento foi provocado pela alta do petróleo – os contratos futuros tipo Brent subiram 1,70% a US$ 55,65 o barril, além de novas informações sobre a cessão onerosa da companhia.

Em entrevista à agência “Bloomberg”, o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, afirmou em Nova York que o governo considera razoável que o pagamento da União à Petrobras referente à cessão onerosa seja de US$ 12 bilhões. Ele também disse que a estatal gostaria de um valor ainda maior e que, portanto, o pagamento poderia superar esse patamar. Neste momento, as ações da Petrobras aceleraram o movimento de alta.

Mais tarde, a assessoria de imprensa do ministro informou que ele não previu ou estimou que a União poderá pagar mais de US$ 12 bilhões à Petrobras. A assessoria informou que esse valor “reflete a expectativa da Petrobras” e acrescentou que “o ministro comentou que a expectativa da Petrobras era maior do que isso. Mas não citou números”. O presidente da empresa, Pedro Parente, disse que quer concluir as questões envolvendo a cessão onerosa o mais rapidamente possível.

Outra ação com destaque de alta foi o papel preferencial classe A da Braskem, que subiu 6,70%, a maior do Ibovespa. A empresa deve anunciar em breve a decisão de converter suas ações preferenciais em ordinárias. Entre as ações com desempenhos negativos, chamaram atenção as ordinárias da Vale e os papéis do sistema financeiro. As ações da mineradora recuaram 2,21%. Entre as ações dos bancos, a maior queda ficou com as preferenciais do Itaú Unibanco, que recuaram 1,05%. Por serem mais líquidos, esses papéis são preferidos para realização de lucros.

Mesmo com as oscilações durante o pregão, a trajetória de curto prazo para a bolsa de valores continua sendo positiva. Para o economista Álvaro Bandeira, da Modalmais Homebroker, enquanto houver o ingresso de recursos para o mercado de ações, a tendência continua positiva. “É preciso haver um equilíbrio entre a saída de recursos com a realização de lucros e a entrada de dinheiro com a compra de novas ações”, diz.