Por Stella Fontes – Valor Econômico

Embora tenha manifestado, no passado, a preferência por um comprador brasileiro para a Eldorado Brasil, produtora de celulose da J&F Investimentos, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Paulo Rabello de Castro, vê a entrada de um novo participante internacional, “de boa ficha e crédito bom”, nessa indústria de maneira positiva. Conforme Castro, a Eldorado, que está sendo vendida à Paper Excellence, dos mesmos donos da Asia Pulp and Paper (APP), é uma empresa sem problemas e a “aparência” dos novos sócios, boa.

“Nossa pré-disposição é positiva, então tudo fica como está”, comentou Castro, que participou ontem da abertura do 50º Congresso Internacional de Celulose e Papel, promovido pela associação técnica da indústria, a ABTCP. Maior credor da Eldorado, o BNDES poderia antecipar o vencimento da dívida da companhia mais à frente, quando houver troca efetiva de controle.

Questionado sobre a possibilidade de o banco de fomento ser o indutor de uma nova rodada de consolidação da indústria, dando origem a uma campeã nacional de celulose, o presidente do BNDES rejeitou a ideia de formar novas empresas com esse status e disse que, hoje, a moda são as micro, pequenas e médias empresas.

“O menor dos problemas é a consolidação. O que preocupa é que o setor continue se reiventando”, disse. Em relação às participações acionárias do banco na indústria, via BNDESPar, Castro afirmou que a direção do BNDES “não tem tido tempo emocional” para realizar uma análise mais pormenorizada desse tema. “Temos usado muito tempo para explicar o passado”, comentou, referindo-se às denúncias de que operações fechadas pelo banco teriam sido irregulares. “Mas, em poucos meses, podemos ter essa posição”, disse.

Dirigindo-se à plateia e a Castro, o presidente da Suzano Papel e Celulose, Walter Schalka, destacou em sua apresentação que o diferencial da indústria nacional de celulose e papel muito dificilmente pode ser replicado por outras empresas. “O país não é feito de campeões nacionais, mas tem de ser feito por grandes empresas. O Brasil precisa ter grandes empresas”,

afirmou o executivo. Segundo Schalka, o trabalho que vem sendo feito há muitos anos por essa indústria continuará a ser feito, porque “há acionistas que acreditam e investem no Brasil de forma contínua”.

Antes, em sua apresentação, o presidente do BNDES falou sobre o vigor e persistência dessa indústria e lembrou que o banco de fomento destinou cerca de US$ 8 bilhões às grandes produtoras brasileiras de celulose e papel nos últimos anos.

Ao encerrar seu discurso, em que elencou uma série de qualidades do setor, falou sobre a necessidade de se preservar no país o “profit” (lucro, em inglês) da indústria.