Por Sergio Lamucci – Valor Econômico

04/05/2018 – 05:00

A economia brasileira tem condições de crescer a um ritmo de 2,5% a 3% nos próximos cinco anos sem que isso leve ao surgimento de maiores pressões inflacionárias, segundo estudo do Departamento Econômico do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Num cenário de recuperação moderada, puxada pelo investimento, não há motivos para se temer o esgotamento brusco da capacidade ociosa em 2019 ou 2020, afirma o economista-chefe do banco, Fabio Giambiagi.

Para ele, isso indica que a inflação e os juros podem ficar em níveis baixos por um longo período, desde que se adotem medidas para equilibrar as contas públicas e aumentar a produtividade. Giambiagi destaca também que um crescimento sustentado de 4% a 5% ao ano “está fora do radar nos próximos anos por total inviabilidade”. A taxa de investimento ainda é baixa e a produtividade cresce pouco.

No estudo, Giambiagi e o economista Guilherme Tinoco traçam um cenário para o crescimento da economia brasileira de 2018 a 2023. Considerando uma expansão do PIB de 2,5% neste ano, os dois definiram uma trajetória de aceleração gradual da atividade, que leve ao término da ociosidade no fim desse período. Na média dos cinco anos, o PIB cresceria 2,9%, atingindo 3,4% em 2023. O investimento, por sua vez, avançaria 6% em 2018 e 7% anuais no intervalo restante.

O estudo considera um hiato do produto (uma medida de ociosidade na economia) de 4,5%, um número que Giambiagi diz ser conservador. O hiato mostra a diferença entre o PIB efetivo e o PIB potencial (aquele que não causa pressões inflacionárias). “Não há nenhuma hipótese heroica nas simulações”, diz o economista-chefe do banco. Para a produtividade total dos fatores (PTF, que mede a eficiência com que capital e trabalho se transformam produção), a estimativa é de que um ritmo de crescimento que acelera de 0,5% ao ano em 2018 para 1% em 2023.

Para Giambiagi, os números mostram que há espaço para um crescimento moderado e firme sem que isso leve a pressões inflacionárias relevantes. Segundo ele, a economia brasileira tem vários riscos e desafios pela frente, como a delicada situação fiscal, mas há uma combinação de fatores que pode permitir um cenário de inflação e juros baixos por vários anos.

Para que se concretize esse cenário de taxas em níveis menores, é fundamental a continuidade do programa de reformas, ressalta o estudo. Entre as medidas, Giambiagi e Tinoco citam a maior abertura da economia, a obediência ao teto de gastos e a realização de uma reforma da Previdência em 2019. Isso seria consistente com novas quedas dos juros reais (descontada a inflação) de longo prazo. As taxas de cinco anos, que ficam em média em 5,8% em termos reais durante 2016 e 2017, poderiam cair para 3% em 2023.

Ao mesmo tempo, Giambiagi diz que taxas de crescimento sustentado de 4% a 5% são “irrealistas no horizonte contemplado no estudo”. No relatório, o crescimento potencial aumenta de 1,7% em 2018 para 2,6% em 2023. A taxa de investimento, por sua vez, passaria de 16,1% para 19,5% do PIB no período. “Seria difícil sustentar, em meados da próxima década, taxas de variação do PIB maiores que 3% ao ano, a não ser que o investimento ou a PTF crescessem mais fortemente”, afirma o estudo. “Isso exigiria uma mudança tecnológica mais intensa, combinada com melhoras expressivas do capital humano e maiores efeitos positivos da infraestrutura.”

No cenário-base desenhado por Giambiagi e por Tinoco, o PIB per capita cresceria a uma média de 2,3% até 2023, enquanto o desemprego recuaria gradualmente. A taxa cairia de uma média de 12,7% em 2017 para 8,2% em 2023.

Giambiagi nota que a expectativa é de “recuperação progressiva” da renda per capita, ainda que a taxas inferiores aos “bons anos da década passada”. O ponto é que o PIB tende a crescer a taxas “progressivamente maiores”, ao mesmo tempo em que a taxa de crescimento populacional declina, observa ele.

Giambiagi enfatiza também a transição demográfica como um dos desafios enfrentados pelo Brasil. O envelhecimento populacional torna premente uma reforma da Previdência, num país em que os gastos com aposentadorias já são elevados.

Em 2010, havia mais de oito pessoas em idade de trabalhar para cada idoso, relação que cairá para perto de dois em 2060, nota o estudo. Em resumo, haverá muito menos trabalhadores contribuindo com as aposentadorias dos mais idosos.

A demografia também tem impacto sobre a capacidade de crescimento do país. No cenário de referência do estudo, o PIB potencial médio é de 2,2% entre 2018 e 2023. Parte das dificuldades para alcançar taxas mais elevadas se deve a fatores demográficos, diz Giambiagi. A população entre 20 e 64 anos, que crescia a 2,41% em 2001, deve aumentar apenas 1,13% neste ano, 1,01% em 2020 e 0,81% em 2023. É uma expansão cada vez mais lenta da população em idade de trabalhar, o que limita a capacidade de a economia avançar a taxas mais fortes.