Por Francisco Góes e Thais Carrança – Valor Econômico

14/08/2018 – 05:00

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) registrou, no primeiro semestre, o maior lucro para esse período do ano desde 2014. O resultado obtido pela instituição de fomento de janeiro a junho de 2018 foi de R$ 4,76 bilhões, alta de 254% sobre os R$ 1,345 bilhão de igual período de 2017. Três fatores contribuíram para o desempenho. O primeiro foi a intermediação financeira, que representa a atividade de crédito do banco e somou R$ 6,5 bilhões no semestre. O segundo fator foi o resultado obtido com a venda de participações societárias, que ficou em R$ 4,1 bilhões. Em terceiro lugar, houve uma queda nas provisões para risco de crédito. Essa despesa foi de R$ 81 milhões de janeiro a junho ante R$ 4,76 bilhões em igual período do ano passado.

O presidente do BNDES, Dyogo de Oliveira, disse em entrevista sobre o resultado do banco que as perspectivas para o segundo semestre são boas porque o provisionamento para risco de crédito continuará baixo. Segundo ele, chegou-se ao “fim” de um ciclo de provisionamentos e, em alguns casos, houve até reversão de parte das provisões por renegociações e reestruturação de dívidas de empresas. Dyogo disse ainda que o BNDES está fazendo um esforço de redução de tempo para contratação de operações, reduzindo burocracia. “Isso deve resultar em volume maior de contratações [de operações de crédito]”, previu. Ele acrescentou que o banco vai continuar a perseguir a venda de ativos maduros que já “performaram”.

“Esse resultado [do primeiro semestre de 2018] deve continuar vindo forte no segundo semestre, mantendo um lucro representativo para o banco”, afirmou Dyogo.

Dyogo disse ainda que o BNDES manteve discussões com o Ministério da Fazenda em que se acordou que, a partir de 2019, o banco vai pagar ao Tesouro o percentual mínimo legal de dividendos permitido por lei, que é de 25% do resultado. “Isso vai permitir ao banco se capitalizar sem nenhum suporte do Tesouro Nacional”, disse Dyogo. Em 30 de junho de 2018, o passivo do BNDES ficou em R$ 834,5 bilhões, abaixo dos R$ 883,6 bilhões de junho de 2017. Somente no primeiro semestre deste ano, o BNDES antecipou R$ 60 bilhões ao Tesouro e este mês vai pagar mais R$ 70 bilhões, disse Dyogo.

Segundo o presidente do BNDES, a regra de distribuir o dividendo mínimo legal permitirá ao banco fazer uma reserva de capital que ajudará o banco a formar o seu patrimônio de referência. “A decisão de reter o resultado do BNDES nos mínimos legais permitirá ao BNDES uma capitalização para manter suas operações em patamares satisfatórios”, disse Dyogo. Segundo ele, a perspectiva é que o BNDES volte a operar em níveis “normais”, com sua operações de crédito representando algo como 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em período de quatro a cinco anos. Hoje as operações de crédito do BNDES equivalem a cerca de 1% do PIB. “O capital atual, mais a retenção de lucros, permitirá ao banco operar normalmente.” Dyogo afirmou que em 2017 e em 2018 a distribuição do resultado à União vai ser dar ainda dentro do teto legal permitido, que é de até 60% do resultado. Somente a partir de 2019 é que o banco começará a operar dentro do “piso” de distribuição de dividendo, que é de 25%.

Marcelo Siqueira, diretor jurídico do BNDES, afirmou que com a nova regra de reserva de capital o banco vai quase dobrar o total de retenção de capital nível 1, que é o que interessa para efeitos de exposição em termos de crédito. Essa condição permite ao banco aumentar a margem para poder emprestar, disse Siqueira. “Vamos subir de 40% [de retenção] para 75% do resultado”, afirmou. Ele disse que um cenário de retomada da economia essa medida dará ao banco mais fôlego para emprestar.

Dyogo disse, por sua vez, que o banco tem hoje uma folga considerável de capital. “Do ponto de vista de limites operacionais, o banco está muito saudável e tem capacidade de operar com bastante tranquilidade”, afirmou. A carteira de crédito do BNDES, em 30 de junho, era de R$ 531,8 bilhões, abaixo dos R$ 560 bilhões de dezembro do ano passado.

Dyogo disse que a carteira de crédito da instituição tem sido reduzida pela desalvancagem das empresas, que estão pagando dívidas e não estão retomando crédito em valores equivalentes.

O presidente do BNDES também destacou a inadimplência da instituição, que ficou em 1,45% em 30 de junho, abaixo, segundo ele, da inadimplência média do sistema financeiro nacional que é 3%. Ele acrescentou que expurgando-se a inadimplência do Estado do Rio de Janeiro, cuja dívida é garantida pelo Tesouro, o percentual de 1,45% cai para 0,18%.

Dyogo também comentou o resultado da BNDESPar, o braço de participações do BNDES, que fechou o primeiro semestre com lucro de R$ 1,23 bilhões. Somente no segundo trimestre do ano, a empresa de participações do banco lucrou R$ 1,49 bilhão. Segundo Dyogo, a BNDESPar registrou um ganho de R$ 1,8 bilhão com a venda de participações de Petrobras no primeiro semestre e de R$ 1 bilhão com Eletropaulo. “A venda de participações de Petrobras se deveu a uma necessidade de enquadramento determinada pelo Banco Central”, justificou o executivo.