Por Francisco Góes – Valor Econômico

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está reforçando sua atuação em fundos de investimento. Conhecido por ter um portfólio robusto no segmento de private equity e venture capital, o banco está agora em fase de estruturação de quatro novos fundos, um voltado para empresas em estágio mais embrionário e outros três no segmento de dívida, voltados para o financiamento de empresas e infraestrutura. Três dos fundos em estágio mais avançado devem alcançar patrimônio total de cerca de R$ 500 milhões, dos quais R$ 220 milhões virão de aportes do BNDES.

A carteira hoje do banco reúne participação em 40 fundos que somam patrimônio de R$ 15,7 bilhões, dos quais R$ 3 bilhões correspondem à parcela comprometida pela BNDESPar, braço de participações do banco. Ao todo, são mais de 150 empresas investidas, por meio de 24 fundos de venture capital e capital semente e 16 private equity.

No novo fundo voltado para empresas nascentes, o banco terá como parceiros investidores-anjo, ou seja, pessoas físicas, muitas vezes executivos da área corporativa, que aportam conhecimento, além de recursos, para ajudar essas companhias a se desenvolver. O gestor da carteira, que deve ser constituída na forma de um Fundo de Investimento em Participações (FIP), será escolhido até o fim do ano. O fundo deve começar com R$ 60 milhões, dos quais R$ 40 milhões aportados pelo BNDES, e alcançar patrimônio total de R$ 100 milhões.

Na visão de Eliane Lustosa, diretora da área de mercado de capitais do BNDES, iniciativas que possam incentivar o mercado de capitais são “meritórias” do ponto de vista do investimento da BNDESPar. “Nós, como banco de desenvolvimento, gostaríamos de viabilizar projetos meritórios que tenham externalidades [como inovação, infraestrutura, educação e saúde], e que possam contar com recursos privados.”

Eliane reforça que o banco busca abrir oportunidades para o mercado participar e, nesse sentido, há vários movimentos em curso. “Temos trabalhado para rever nossas políticas com o objetivo de buscar o mercado, de permitir a criação de instrumentos em que nós aportemos recursos, consigamos ancorar [projetos], e trazer o mercado junto”, afirma.

Uma dessas áreas é a de infraestrutura. O BNDES discute a criação de um instrumento para financiar o setor de saneamento, na forma de um fundo de investimento em direitos creditórios (FIDC), que pode chegar a R$ 200 milhões, sendo 50% de recursos do banco. Em 2016, o banco lançou um fundo para a área de energia renovável, gerido pela Vinci Partners, com patrimônio de R$ 500 milhões, dos quais o BNDES vai participar com até 50%. “Temos discutido com fundos de pensão e outros investidores que possam capitalizar o que falta”, disse Eliane.

Segundo Eliane, o BNDES está abrindo o foco para a área de dívida nos fundos, mas continuará a atuar em venture capital e private equity. “Com [fundos de] dívida, temos oportunidade de trazer junto o setor privado para esses instrumentos [de crédito].”

Outro dos fundos de dívida em fase de estruturação é o de “venture debt”, para apoiar pequenas empresas inovadoras. A SP Ventures foi escolhida para fazer a gestão desse fundo, a ser constituído como FIDC. O patrimônio deve ficar entre R$ 150 milhões e R$ 200 milhões, com o BNDES entrando com até R$ 80 milhões. O fundo apoiará a estruturação de dívidas de prazo mais longo (dois a três anos) para um universo entre 25 e 30 empresas que têm base tecnológica e faturam até R$ 90 milhões por ano.

O banco tem ainda o objetivo de apoiar de forma estruturada fundos de crédito corporativo. Por meio desse instrumento, o objetivo é subscrever debêntures de empresas que não têm acesso à dívida bancária. O foco das carteira serão empresas que faturam menos de R$ 1 bilhão por ano. Por ora, não há estimativas de valores para esse fundo pois caberá a investidores aportar recursos e definir o seu tamanho, segundo o BNDES.