Por Fabio Graner e Edna Simão – Valor Econômico

25/09/2018 – 15:13

BRASÍLIA – (Atualizada às 15h20) O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Dyogo de Oliveira, informou em entrevista ao Valor que elevou a meta de venda de participações do banco de R$ 10 bilhões para R$ 12 bilhões em 2018. Por enquanto, a instituição já se desfez de R$ 6 bilhões em participações.

A expectativa de Dyogo é que, com a redução das incertezas com relação ao quadro eleitoral, ocorra uma melhora de cenário, o que contribuirá não só para a venda de participações como também para ampliar os desembolsos do banco.

Ele explicou que a venda de participações do BNDES em empresas permite à instituição apoiar mais projetos nascentes e de empresas de menor porte, dando mais dinamismo à economia. Dyogo reforçou ainda que não cabe à instituição carregar para sempre posições nas empresas.

Até agosto, as consultas feitas ao banco cresceram 2% no acumulado do ano, em comparação ao mesmo período de 2017, para R$ 69,8 bilhões. Nos desembolsos de fato realizados, no entanto, houve uma queda de 14%, para R$ 38,8 bilhões, pelos mesmos parâmetros.

Desses desembolsos, 49% foram destinados a micros e pequenas empresas, disse Dyogo, que rebate críticas de que o BNDES não prioriza empréstimos para esse público. A avaliação dele é que essa queda de 14% nos desembolsos será revertida até o fim do ano, e mantém a previsão de encerrar 2018 com R$ 70 bilhões a R$ 80 bilhões em empréstimos liberados.

“A esteira já está andando mais rápido”, afirmou Dyogo, acrescentando que isso está acontecendo graças a mudanças feitas no banco, assim como melhoria na gestão. “Agora tudo vem seguindo um fluxo. Como houve queda grande de projetos no fim do ano passado e início deste, isso ainda está refletindo até o terceiro trimestre. Tem uma inércia.”

Nos dois primeiros meses do ano, as operações indiretas ficaram “praticamente paradas”, segundo Dyogo.

No caso específico dos desembolsos, que tiveram o pior primeiro semestre em 20 anos, o presidente do BNDES disse que os números foram influenciados pela transição da TJLP para TLP. Muitas instituições financeiras, por exemplo, precisavam ajustar seus sistemas, disse. Além disso, houve uma forte redução dos projetos apresentados ao BNDES.

“Era uma questão operacional, mas isso vai ser carregado como resultado para o ano. Hoje, o banco está desembolsando R$ 3 bilhões por mês no indireto.”

Lucro

Com a aceleração das vendas de participações e a elevação dos desembolsos, o presidente do BNDES, projeta que o lucro líquido da instituição deve atingir a marca de R$ 8 bilhões neste ano. No primeiro semestre, esse resultado somou R$ 4,76 bilhões. A última vez em que o banco de fomento fechou um ano com o lucro na casa dos R$ 8 bilhões ocorreu em 2014, quando o lucro líquido da instituição (R$ 8,593 bilhões). No ano passado, foi de R$ 6,183 bilhões.

Os dividendos pagos à União serão equivalentes ao mínimo previsto, de 25%. Segundo o presidente do banco, a instituição precisará desse capital para cumprir nova resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) que impede a contabilização de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) no cálculo do capital nível II para cumprimento de regras estabelecidas por Basileia III. O prazo para substituir gradualmente esse capital no patrimônio é de dez anos e o cronograma começa a valer a partir de 2020.

Dyogo ressaltou também que está promovendo mudanças no processo de análise de projetos do banco, que hoje conta com quatro fases (consulta, enquadramento, aprovação e desembolso). A ideia é dar mais agilidade para a liberação de empréstimos para, por exemplo, compra de equipamentos. O modelo do BNDES Finame direto, em que as empresas têm um limite de crédito já aprovado, deve ser replicado em outras linhas do banco e de forma mais ampla.

Reestruturação

Também será realizada até o fim do ano uma reestruturação interna e 300 pessoas serão deslocadas da atividade-meio para atividade-fim. Ou seja, esses funcionários serão transferidos para atividades de análise de crédito, dando mais agilidade na liberação dos empréstimos, contou Dyogo.

Atualmente, o prazo médio para análise e aprovação de um projeto é de 118 dias. A meta interna é que 50% dos projetos analisados sejam liberados em até 120 dias. Um dos recordes recentes do banco foi liberar em 58 dias um crédito de R$ 60 milhões para a construção de um armazém.

Para Dyogo, em três anos, o BNDES deve voltar a ter desembolsos no nível de sua média histórica, que é de 2% do Produto Interno Bruto. Mas isso vai depender do desempenho da economia. “O problema hoje é o investimento, que é pequeno”, destacou.

O presidente do BNDES afirmou ainda que o banco está bem capitalizado e não necessita fazer novas captações, embora não tenha descartado realizar alguma operação para realizar gestão de tesouraria.