Por Fabio Graner – Valor Econômico

07/01/2019 – 05:00

O BNDES pode até quadruplicar o valor que devolverá ao Tesouro Nacional neste ano, passando de R$ 26 bilhões para até R$ 100 bilhões. A visão é do diretor financeiro da instituição de fomento federal, Carlos Thadeu de Freitas, que pondera que isso dependerá também da velocidade dos desembolsos neste ano.

“As devoluções em 2019 podem chegar a R$ 100 bilhões desde que os desembolsos não cresçam acima de R$ 80 bilhões – o que é bastante realista já que em 2018 devem ter chegado a R$ 69 bilhões”, ponderou. Nesse cenário, a expansão dos empréstimos seria da ordem de 16%, um ritmo que não pode ser considerado fraco, dada uma inflação esperada da ordem de 4%.

Ao tomar posse como ministro da Economia, Paulo Guedes disse que pretende reaver todos os recursos emprestados pelo Tesouro ao banco. Ele lembrou que a maior parte já foi devolvida, mas que ainda faltam R$ 200 bilhões (na verdade entre R$ 260 e R$ 270 bilhões) a serem devolvidos.

Na ocasião, Paulo Guedes defendeu “desestatizar” o crédito no Brasil, ou seja, diminuir o papel das instituições financeiras federais na oferta de empréstimos para empresas e famílias. O ministro apontou que os bancos públicos devem priorizar empréstimos a empresas de menor porte, que têm menor capacidade de tomar recursos no setor privado a taxas mais favoráveis.

Além disso, avaliou que a participação das instituições públicas no mercado de crédito na última década se deu por conta de aportes do Tesouro. Isso sobrecarregou as contas públicas, pressionando as contas públicas e elevando os juros para todos os segmentos da sociedade para supostamente beneficiar um grupo pequeno de empresas.

O retorno de R$ 100 bilhões neste ano reduziria a dívida pública bruta em cerca de 1,5 ponto porcentual do PIB. O dado mais recente da dívida, relativo ao mês de novembro, mostrava que ela estava em 77,3% do PIB, com alta de 3,2 pontos percentuais sobre 2017, mesmo com a devolução de R$ 130 bilhões feitas no ano passado pelo banco estatal.

Algumas fontes ouvidas demonstram preocupação com a hipótese de devolução de R$ 100 bilhões do banco em 2019. A visão é que isso comprometeria demais a capacidade de desembolsos da instituição de fomento num ano em que devem crescer mais fortemente os investimentos e no qual os recursos liberados poderiam até chegar a R$ 90 bilhões, o que representaria uma expansão de 30%, ritmo elevado.

Além disso, para conseguir pagar esse volume de recursos ao Tesouro provavelmente o banco terá que reforçar ainda mais as vendas de ações na carteira da BNDESPar. Nesse caso, o risco é que o banco acabe gerando pressão no mercado acionário, levando a uma perda de valor dos papéis de empresas que mantêm na carteira, como Petrobras e Vale.

Na ponta que defende a devolução mais alta, contudo, a visão é que este ano o mercado está com tendência altista (bullish), o que abre espaço para que tranquilamente se proceda a venda dos papéis, reforçando o caixa do banco e ainda revendo o tamanho da própria BNDESPar, que também é considerado exagerado para os princípios liberais que agora estão comandando a economia