Por Lívia Ferrari – Valor Econômico

28/08/2018 – 05:00

O BNDES espera concluir em breve a estruturação dos primeiros fundos de crédito que compõem o programa anunciado pelo banco no primeiro semestre do ano, com orçamento de R$ 6 bilhões, para financiamento de projetos via mercado de capitais, com títulos de dívida de longo prazo. Desse total, R$ 5 bilhões serão destinados a fundos de investimento em infraestrutura e R$ 1 bilhão a fundos de crédito corporativo a pequenas e médias empresas.

A diretora de mercado de capitais do BNDES, Eliane Lustosa, acredita que em setembro terá anunciado o primeiro fundo de crédito corporativo; e que, a partir daí, “em um ou dois meses” possa anunciar também gestor qualificado para receber aportes de recursos aos primeiros fundos de infraestrutura na nova política. O BNDES, por meio da BNDESPAR, será cotista desses fundos, que vão investir prioritariamente em debêntures ou em recebíveis vinculados a projetos de logística e transporte, mobilidade urbana, energia, telecomunicações e saneamento básico.

“O objetivo é ampliar alternativas para o financiamento de projetos com instrumentos de mercado de capitais e atrair novos investidores”, diz Eliane, convencida de que, para o mercado de dívida privada se desenvolver, como o mercado de dívida pública se desenvolveu a partir dos anos 2000, é preciso mais alternativas de ‘funding’ e mais projetos de modo contínuo. “Os fundos são fonte a mais de financiamento, para que projetos não dependam apenas de crédito dos bancos comerciais e do BNDES”, afirma.

Pelas regras pré-definidas, cada fundo de infraestrutura terá aporte máximo do banco estatal de R$ 500 milhões, limitado a 30% do seu capital total. Ele poderá ser formado por parte das debêntures de infraestrutura da carteira do BNDES. Já os fundos de crédito corporativo focados em PMEs (que faturam até R$ 300 milhões por ano), poderão receber, cada um, até R$ 300 milhões, não podendo ultrapassar 20% do capital total subscrito no fundo. Em ambos os fundos essas condições são para seleção por meio de consulta prévia ao banco (sem chamada pública).

Segundo a executiva do BNDES, o cenário de inflação baixa e queda de juros “ajuda muito a atrair investidores para o mercado de debêntures”, sobretudo investidores institucionais, que precisam diversificar investimentos, ampliar portfólio e compatibilizar ativos e passivos. E, segundo ela, com um gestor qualificado, que receberá performance em função do sucesso do fundo, aumenta a chance de êxito dos projetos. “Há enorme apetite dos investidores institucionais por um veículo que permita diversificar risco. Dívida de bom risco é ativo interessante”, observa.

Eliane explica que cabe ao BNDES identificar “falhas de mercado” e trazer recursos públicos para esse tipo de investimento, desde que o setor privado venha junto, mostrando que o modelo de negócio faz sentido. “Vamos ajudar a desenvolver o mercado de financiamento com dívida privada, contribuindo para a captação dos fundos, para que eles sejam concluídos, tragam debêntures e maior liquidez ao sistema”, afirma.

O processo de seleção desses fundos será por meio de consulta prévia à equipe técnica BNDES, responsável pela análise das propostas de gestores. “Este é um processo mais ágil e rápido, na modalidade “fast track” (via rápida), sem chamada pública. O banco vai selecionar gestores que já estão no mercado e em fundos de infraestrutura que estejam em processo de captação”, segundo a diretora