Por Francisco Góes, Alessandra Saraiva e Rafael Rosas – Valor Econômico

25/04/2018 – 05:00

A retomada ainda lenta da economia continua a ter impactos negativos sobre o desempenho do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social(BNDES). O banco divulgou os números do primeiro trimestre do ano, quando o desembolso totalizou R$ 11,1 bilhões, queda de 26% sobre igual período do ano passado.

Outros dois indicadores que servem como termômetro para o investimento das empresas também caíram. As consultas somaram R$ 13,4 bilhões de janeiro a março, recuo de 36% sobre igual período de 2017, e os enquadramentos atingiram R$ 11,9 bilhões, redução de 37%. Em março, as consultas somaram R$ 6,6 bilhões, as menores para o mês desde 2003 a valores constantes.

Apesar do resultado, o BNDES acredita em uma “reversão” dos números a partir deste mês. Maurício Neves, superintendente da área de planejamento estratégico do banco, disse que é possível ver um movimento ascendente de recuperação em abril. Ele disse que o banco, mesmo com as oscilações, vem operando em patamares de consultas da ordem de R$ 100 bilhões no acumulado de 12 meses. Ele não quis fazer previsão sobre desembolsos para 2018, embora alguns diretores do banco falem em R$ 80 bilhões (em 2017, foram R$ 70,7 bilhões a valores constantes).

Em março, os desembolsos do banco somaram R$ 4,3 bilhões, alta de 47% sobre fevereiro, melhor resultado do ano. Neves disse que um ponto positivo foi a participação das pequenas, micro e médias empresas, que no primeiro trimestre responderam por R$ 6 bilhões nos desembolsos, 54,3% das liberações totais do banco no período. Significa que mais da metade do que o banco faz, em termos de apoio de crédito, é voltado para micro, pequenas e médias. O número confirma a trajetória ascendente do banco no segmento das chamadas MPMEs.

Mesmo com essa participação, o desembolso para as micro, pequenas e médias empresas caiu 3% no primeiro trimestre do ano em relação a igual período de 2017. O BNDES Giro, linha de capital de giro para MPMEs, desembolsou R$ 1,28 bilhão de janeiro a março, com queda de 27% sobre igual período de 2017. A linha se recuperou em março, porque em janeiro e fevereiro o banco enfrentou dificuldades com os agentes financeiros relacionadas a sistemas de informática depois da adoção da Taxa de Longo Prazo (TLP).

O BNDES disse que esses problemas afetaram seus indicadores de forma geral no primeiro bimestre. Neves disse que essa questão foi “superada”, mas que a trajetória de recuperação demora mais a aparecer.

A aprovação de projetos foi a única, entre todas as etapas de tramitação das operações de crédito no banco, a crescer no primeiro trimestre do ano: somou R$ 16 bilhões de janeiro a março, com alta de 11% sobre igual período de 2017. O crescimento das aprovações do BNDES no trimestre foi puxado pela área de infraestrutura, que respondeu por 41,3%, ou R$ 6,6 bilhões, das novas operações aprovadas no período, no valor de R$ 16 bilhões.

Dentro do segmento de infraestrutura, tiveram destaque os projetos de energia eólica, disse Neves. Somente a carteira de energia elétrica do banco somou R$ 5,1 bilhões em aprovações no período, com alta de 69% sobre janeiro-março de 2017.

Outro segmento que contribuiu para o resultado foi o de transporte ferroviário, com aprovações de R$ 84 milhões de janeiro a março, o que correspondeu a crescimento de 495% sobre o mesmo período do ano passado.

Neves disse que o crescimento na aprovação de projetos reflete o trabalho do banco de tornar os processos sob seu controle mais eficientes. Já sob a gestão do novo presidente, Dyogo de Oliveira, o banco anunciou, na semana passada, uma nova estrutura organizacional na diretoria com o objetivo de buscar maior agilidade e eficiência nas operações.

Ao analisar as operações por linhas, o desempenho também foi negativo. A Finame, que financia máquinas e equipamentos, desembolsou R$ 3,49 bilhões no trimestre, com queda de 14% sobre igual período do ano passado.