Por Maria Luíza Filgueiras – Valor Econômico

29/07/2019 – 05:00

O início da gestão do novo presidente do BNDES, Gustavo Montezano, tem sido em ritmo acelerado. Na última semana, reuniu-se com os presidentes de bancos de investimento e atacado, fez novas contratações para a área de mercado de capitais e espera-se que anuncie em breve operações de desinvestimento.

Os bancos estão de olho em uma série de mandatos robustos do BNDES, como a venda das participações em Petrobras e JBS, que já devem ser iniciadas neste ano, conforme o Valor apurou. Também visam outros mandatos menores que acreditam que podem sair mais rápido, como Copel e Cemig.

Além disso, há participações em fundos de private equity e em empresas de capital fechado que devem ser negociadas. A expectativa é que cerca de R$ 35 bilhões venham a mercado neste segundo semestre, conforme quatro fontes.

Montezano recebeu no escritório do banco em São Paulo na semana passada os principais executivos de Itaú Unibanco, Bradesco, Santander, Citi, J.P. Morgan, Credit Suisse, XP Investimentos, Morgan Stanley, BTG Pactual e Brasil Plural, em reuniões separadas. Do Itaú, por exemplo, participaram o presidente Candido Bracher e o principal executivo do Itaú BBA, Caio Ibrahim. Outros bancos, como Citi e BTG, levaram também os executivos à frente das áreas de mercado de capitais e de crédito corporativo.

“O tema principal foi monetização de ativos, mas ele também abordou financiamento de infraestrutura, o que pode ter de melhoria nisso, que tipo de estrutura”, diz um executivo que participou da rodada.

Na última semana, André Laloni, até então vice-presidente de finanças da Caixa, anunciou sua partida para o BNDES. Lá, assumirá a diretoria de crédito e de investimentos – uma atuação um pouco mais abrangente da que era tocada por Eliane Lustosa. Laloni ficou sete meses na Caixa, onde coordenou desinvestimentos da ordem de R$ 17 bilhões e deu início à preparação de quatro subsidiárias para uma oferta pública inicial (IPO).

Sua breve passagem pela Caixa ficou marcada pela velocidade nos processos, com reuniões noite adentro e processos de seleção de assessores financeiros aos fins de semana para viabilizar operações em prazos curtos. “Dou um mês para começarmos a receber RFPs”, diz um banqueiro sobre o ritmo acelerado de Laloni e o que pode imprimir no BNDES, usando o jargão em inglês para propostas de coordenação de ofertas e vendas – “request for proposal”. Mas ainda não há, de fato, contratação de sindicatos, ressaltou um banco.

Também integrou a equipe este mês outro nome que animou o mercado financeiro. Leonardo Cabral assumiu a diretoria de privatizações – ele era sócio da gestora LaPlace Finanças e já comandou a área de fusões e aquisições do Credit Suisse e da Ambev.

Os bancos avaliam que, pelo tamanho da participação detida na Petrobras, esse desinvestimento terá que ser feito de forma paulatina. As ações detidas por BNDES e BNDESPar somam R$ 50,52 bilhões e, na avaliação dos banqueiros, para se desfazer desse montante o banco terá que dividir em duas ou três tranches ao longo de um período de 24 meses, pelo menos – para evitar um impacto relevante nas ações. Uma das tranches está prevista para acontecer ainda este ano. O BNDES faz parte do grupo de controle, mas se vender todas as ações o governo federal continuará tendo mais de 50% das ações ordinárias.

Outra grande expectativa do mercado é a venda da fatia de 21,32% na empresa de alimentos JBS, correspondente a R$ 14,7 bilhões. Em dezembro, acaba o acordo de acionistas entre a BNDESPar e a holding J&F – instrumento que permitiu ao banco vetar uma reorganização societária que colocaria a sede da empresa no exterior em 2016. Analistas avaliaram na época que isso poderia reduzir custos tributários da companhia e destravar valor adicional com uma listagem em bolsa internacional.

“O BNDES pode se desfazer dos papéis no curto prazo aproveitando que as ações da JBS negociam perto da máxima histórica ou pode esperar o fim do acordo e a concretização desse plano antigo da empresa, se entender que isso pode valorizar o papel e dar porta de saída”, diz o diretor de um banco de investimento. O Valor apurou que a nova equipe do BNDES avalia vender uma parte disso ainda este ano, mas não há qualquer decisão ainda. O acordo é válido desde que o banco mantenha fatia de 15% na JBS – então, pouco mais de R$ 4 bilhões estariam desvinculados.

De acordo com dois bancos, outras operações, no setor elétrico, podem ser efetivadas mais rapidamente – como a venda das ações na Copel e na Cemig. Enquanto a ação da primeira está nas máximas, a Cemig está longe desse marco – mas eles ponderam que é o melhor patamar desde meados de 2015. Nas duas companhias, a posição do BNDES soma R$ 4,42 bilhões.

“Já Eletrobras não deve vir tão cedo e Energisa é uma operação mais complexa, um pouco em ações e parte em debêntures conversíveis”, diz um executivo. Outras posições relevantes do banco são 33,74% do frigorífico Marfrig, 11% da produtora de papel e celulose Suzano e 6,3% na mineradora Vale – mas assessores financeiros veem necessidade de melhora de preço.

O banco pode se desfazer ainda de participações em projetos de infraestrutura, percentuais acionários menores em companhias (que podem ser feitos em bolsa de forma pulverizada ou por venda em bloco e não demandam organização de oferta) e participações em fundos de investimento. BR Malls, Gerdau, Klabin, Engie, MRV, Cyrela são algumas dessas posições em empresas abertas. Dentre as fechadas, estão Hidrovias do Brasil, Granbio e Iguá Saneamentos. Soma ainda participação em 42 fundos de private equity que podem ter negociação secundária.

Em seu discurso de posse, Montezano falou em se desfazer de até R$ 100 bilhões em participações em empresas. Se esse ritmo esperado se concretizar de fato, os bancos de investimento estimam que o BNDES possa movimentar algumas dezenas de bilhões de reais já neste segundo semestre. “Se o plano andar, seria razoável falar em R$ 30 bilhões a R$ 40 bilhões em desinvestimentos este ano, um volume que o mercado teria capacidade de absorver e que não atropelaria processos no banco”, avalia outro banqueiro.