Por Rodrigo Polito – Valor Econômico

06/08/2018 – 05:00

O BID Invest, braço do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para o setor privado, planeja ampliar o volume de financiamentos em infraestrutura no Brasil para mais de US$ 500 milhões por ano. O aumento do interesse se deve à estimativa de que o país demandará investimentos em infraestrutura de R$ 145 bilhões por ano e que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), principal fonte de financiamento para o setor, não terá condições de atender em sua maioria.

“Estamos falando de uns R$ 145 bilhões de investimentos em infraestrutura por ano que o Brasil tem. O BNDES diminuiu o quanto vai investir em infraestrutura e se estima que esse financiamento vai ficar por volta de R$ 30 bilhões por ano. Tem um ‘gap’ relevante que queremos cobrir com financiamento diretamente, mas também atraindo investidores internacionais”, disse o chefe da divisão de Infraestrutura e Energia do BID Invest, Javier Rodriguez de Colmenares.

De acordo com o executivo, a ideia é atuar em quatro frentes. A primeira é o fornecimento de garantia para a cobertura de emissões de dêbentures. A segunda é a possibilidade de subscrição de debêntures, incentivadas ou não. A terceira é a concessão de financiamentos diretos, em reais. E, por último é a formação de um fundo para atração de investimentos de terceiros para. Esta iniciativa, explicou Colmenares, deve ser um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC).

Com relação ao fundo, o BID Invest lançou o “B2 Infra”, em maio deste ano, em parceria com o BNDES. O fundo, que terá um montante de US$ 1,5 bilhão, deve entrar em operação entre o primeiro e segundo trimestre de 2019 e terá como objetivo o investimento em instrumentos de dívidas nos setores de energia, saneamento, transporte e infraestrutura social (como saúde e educação). Do montante total, o BID colocará 10% e o BNDES, 30%. O restante será captado com o setor privado, especialmente investidores institucionais.

Segundo Colmenares, até o momento, considerando BID, BNDES e dois investidores privados confirmados, o fundo já levantou US$ 950 milhões. A ideia do fundo é investir – em reais – o equivalente a US$ 500 milhões, em reais, por ano no Brasil. O fundo terá duração total de dois anos. “O BID Invest está investindo em infraestrutura no Brasil por volta de US$ 500 milhões por ano. Com esse fundo, poderemos mais que dobrar o que vamos financiar no Brasil”.

Hoje o banco anunciará o fornecimento de uma garantia total de crédito (TCG, na sigla em inglês), de R$ 125 milhões, para cobrir integralmente a emissão de debêntures para financiar a implantação do parque eólico Santa Vitória do Palmar, de 207 megawatts (MW) de capacidade, no Rio Grande do Sul, e que pertence à Atlantic Energias Renováveis, controlada pela gestora inglesa Actis.

O TCG, contou o executivo, é interessante para quem adquire a debênture, por ter um relação “risco x retorno” melhor, e interessante para o emissor, porque o custo da garantia somado ao custo da emissão é menor que o da emissão de uma debênture não garantida. Além disso, a garantia possibilita o alongamento do prazo da debênture, que no caso do projeto, passou de 12 anos para 13 anos e meio.

Além das debêntures, o parque conta com financiamento de R$ 680 milhões do BNDES e do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE).

Outra operação de TCG está “no forno”, prevista para setembro, no valor de R$ 350 milhões e também voltada para o segmento de energias renováveis.

Outra operação recentemente fechada pelo BID Invest foi o financiamento de US$ 288 milhões, em reais, para a Centrais Elétricas de Sergipe (Celse), responsável pela construção e operação de uma termelétrica a gás natural, de 1,5 mil MW de capacidade, em Sergipe.

Na área de energia, outro ponto de atenção do BID Invest é o segmento de transmissão. Segundo Colmenares, os empreendimentos negociados nos últimos leilões do setor demandarão investimentos de R$ 30 bilhões, dos quais a maior parte ainda não fechou o financiamento.