Por Thais Carrança e Gabriel Caprioli – Valor Econômico

O Banco Central (BC) aumentou a projeção para o crescimento de 2017, de 0,5% para 0,7%, ao mesmo tempo em que divulgou pela primeira vez uma estimativa para a expansão do PIB de 2018, de avanço de 2,2%. É o mesmo número do consenso de mercado que aparece no mais recente boletim Focus, divulgado semanalmente pelo BC.

“Resultados setoriais de indicadores de maior frequência, recentemente divulgados, têm mostrado surpresas positivas, ensejando perspectivas favoráveis para o crescimento da atividade”, avalia o BC, no Relatório Trimestral de Inflação (RTI).

A revisão para este ano reflete, principalmente, o desempenho do PIB no segundo trimestre “superior à mediana das expectativas do mercado”.

Segundo analistas, a nova projeção para este ano não causou surpresas, levando em conta os dados de atividade do segundo trimestre e do início do terceiro. Para 2018, no entanto, há alguma controvérsia se a instituição está sendo conservadora ou otimista demais.

A alta de 3% da formação bruta de capital fixo (FBCF, medida do que se investe em máquinas e equipamentos, construção civil e inovação) prevista para o próximo ano, revertendo recuo de 3,2% estimado para 2017, é vista como uma “normalização” após longa queda, em meio à elevada ociosidade.

O consumo das famílias, deve avançar 0,4% neste ano e 2,5% no ano que vem, nas projeções do BC. Em 2017, é o componente da demanda que vai liderar o crescimento, ao lado do setor externo. Para o BC, as exportações avançarão 3,9% neste ano, acima do 1,9% das importações.

Na ponta otimista, a XP Investimentos vê o PIB de 2018 mais próximo de 3%. A economista-chefe da corretora, Zeina Latif, pondera que uma eleição presidencial muito tumultuada pode afetar essa expectativa, mas ela acredita que o pleito poderá ser mais tranquilo do que muitos esperam.

“É consensual entre a classe política que precisa haver reforma, a divergência é quanto à forma, mas ninguém mais nega a necessidade. Por isso, acredito que candidatos com agendas mais populistas, de pouco compromisso com as contas públicas, serão pouco competitivos”, diz Zeina. A perspectiva de crescimento para 2018 maior do que a do BC está embasada nas expectativas para o consumo, afirma.

Na ponta pessimista, o Haitong projeta um crescimento em 2018 inferior à estimativa do BC, em 1,5%, mas com dinâmica compatível, com o consumo das famílias e formação bruta de capital fixo crescendo mais do que o consumo do governo.

Além disso, o setor externo deve ter contribuição negativa para o PIB no ano que vem, com as importações crescendo mais do que as exportações.

Apesar de ter um viés positivo para a atividade no curto prazo, o banco ainda não considera revisar sua projeção para 2018. “A taxa de juros e inflação mais baixas são bastante positivas para o crescimento, mas há um nível de desemprego muito elevado, que deve se manter assim por bastante tempo, porque o mercado de trabalho demora mais para reagir à melhora atividade econômica. Isso acaba sendo uma restrição para um crescimento do consumo mais forte”, diz o economista Flávio Serrano.

Pelo lado da oferta, o BC piorou as projeções para a indústria neste ano de 0,3% para -0,6%. Para a agropecuária, que sustentou o PIB no primeiro trimestre, o BC elevou a projeção de alta de 9,6% para 12,1% em 2017. Em relação aos serviços, a previsão passou de queda de 0,1% para alta de 0,1%.