Por Lucas Hirata – Valor Econômico

A extensão do ciclo de corte de juros para 2018 é uma opção que o Comitê de Política Monetária do BC (Copom) deve manter em aberto após sua reunião de amanhã. O comunicado que acompanhará o anúncio do Copom deve ganhar ainda mais atenção do que a própria decisão sobre a taxa Selic. É praticamente um consenso no mercado a avaliação de que a taxa básica cairá de 7,50% para a nova mínima histórica de 7%. A dúvida, então, fica em movimentos adicionais ao longo do ano que vem, algo que o BC deve atrelar, como de costume, à trajetória dos indicadores econômicas e o balanço de riscos.

Para o economista Alberto Ramos, do Goldman Sachs, o Copom pode introduzir uma nova linguagem para sugerir que outro corte de 0,50 ponto percentual em fevereiro de 2018 não é muito provável. Com isso, o BC pode não indicar explicitamente que o ciclo provavelmente terminou com o corte previsto de 0,50 ponto nesta semana, preservando a opção de reduzir ou não a Selic em 0,25 ponto no primeiro encontro do ano que vem. “Tempo e disponibilidade de mais dados jogam a favor do Copom”, diz o economista.

Uma sinalização mais clara poderia vir formalmente no Relatório Trimestral de Inflação (RTI), a ser divulgado em 21 de dezembro, ou em discursos dos dirigentes. As estimativas de inflação do BC para 2018 e 2019 devem apontar o espaço possível para cortes na Selic. Caso a projeção para os índices de preços seja mantida abaixo das metas, o BC poderia validar níveis inferiores a 7% para a Selic, como espera parte do mercado. “A taxa Selic poderia eventualmente diminuir abaixo de 7,0% durante o primeiro trimestre de 2018, mas, em nossa avaliação, tão importante quanto as previsões de inflação condicional para o fim de 2018 e 2019, seria o balanço de risco, em grande parte opinativo, em torno dessas previsões”, aponta Ramos.

O Rabobank Brasil também aponta que o destaque da reunião do Copom será a sinalização para fevereiro. “Embora nosso cenário base projete que este [corte de dezembro] seja o movimento final neste ciclo, o BC provavelmente procurará manter graus de liberdade e não fechará as portas em um possível movimento de 25 pontos-base na primeira reunião de 2018”, escreve o economista-chefe do banco, Maurício Oreng.

Até o momento, os juros futuros precificam redução de aproximadamente 16 pontos-base na reunião do Copom daqui dois meses. Isso significa que os participantes do mercado não descartam o movimento, mas tampouco se arriscam nessa aposta de maneira generalizada.

No Haitong do Brasil, a leitura é a de que o BC manterá a porta aberta para novos movimentos no ano que vem. Ainda assim, a expectativa, por ora, é que a autoridade monetária terminará o ciclo de cortes nesta semana.

“Afinal, a taxa básica Selic foi cortada para 7,50%, de 14,25% ao ano, desde o início deste ciclo de flexibilização, com taxas de juros reais ex-ante girando em aproximadamente 3,0% ao ano atualmente”, avaliam os economistas Jankiel Santos e Flávio Serrano, do Haitong. “Estamos chegando mais perto do final deste ciclo, mas não há dúvida de que as taxas de referência provavelmente permanecerão estáveis por um período de tempo considerável.”

As incertezas na política também devem evitar que os dirigentes do BC se posicionem de forma mais enfática. “O comitê deve deixar em aberto a decisão de 2018 em vista as incertezas políticas que permeiam a aprovação da reforma da previdência”, diz o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira. “Mais do que lógico, ao não se comprometer com nenhum movimento, o BC reforça o que tem alertado mais do que constantemente sobre a necessidade premente de reformas e o apoio aos movimentos da equipe econômica.”

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, afirmou que decide até quinta-feira se pauta a votação na semana do dia 13 ou se isso fica para 2018. Até lá, integrantes do governo devem fazer a contagem de votos para verificar se a aprovação na Câmara neste ano é viável. Maia disse no fim de semana que a base está “reorganizada” para tentar votar a proposta.

Para a equipe de pesquisa macroeconômica do Itaú Unibanco, o comitê deve sinalizar a possibilidade de uma flexibilização monetária adicional no início de 2018, “caso o cenário básico evolua conforme o esperado e o balanço de riscos não se altere”. Ainda assim, o Copom “não deve se comprometer com nenhum curso de ação pré-definido”. A estimativa no Itaú é que o Copom encerrará o ciclo de corte de juros em fevereiro com uma redução de 0,50 ponto, após corte de mesma magnitude amanhã, o que levaria a taxa Selic para o patamar final de 6,5% ao ano.