Por Flávia Furlan e Talita Moreira – Valor Econômico

15/02/2019 – 05:00

O processo de saneamento do balanço que o Banco do Brasil (BB) atravessou nos últimos anos, após a fase de maior expansão do crédito, resultou em bons números em 2018, com melhora de indicadores de rentabilidade e lucro. Mas, na opinião do novo presidente, Rubem Novaes, que assumiu no início do ano, o fato de o banco ser estatal prejudica o desempenho e uma privatização traria mais eficiência à instituição.

“O BB privatizado seria mais eficiente”, disse Novaes a jornalistas ontem em São Paulo. “Não é essa a política do governo. É uma posição pessoal. Espero que se chegue um dia a essa conclusão.”

O Banco do Brasil teve lucro líquido ajustado de R$ 13,513 bilhões em 2018, alta de 22,2% em relação ao ano anterior. No quarto trimestre, o banco lucrou R$ 3,845 bilhões, aumento de 20,6% em um ano e acima da projeção média de analistas consultados pelo Valor, de R$ 3,786 bilhões.

No último trimestre, o retorno sobre o patrimônio líquido ajustado ficou em 16,3%, em comparação a 14,5% no mesmo período do ano anterior. Apesar da melhora, o indicador é quase seis pontos percentuais inferior ao registrado pelo Itaú Unibanco, de 21,8% no quarto trimestre. O banco privado tem a maior rentabilidade entre as maiores instituições financeiras do país. O Santander gerou retorno de 21,1% e o Bradesco, de 19,7%.

Novaes reiterou o objetivo de se aproximar do nível de rentabilidade dos concorrentes, mas não se comprometeu com um prazo. O novo presidente do BB disse, porém, que o controle estatal é um entrave, pois reduz a liberdade para a tomada de decisões. “Se o banco fosse privado, com a equipe que tem, teria um resultado melhor do que tem hoje”, disse.

Ciente de que uma privatização do BB não é a agenda do governo neste momento, o executivo está avançando com a política de desinvestimentos, para maximizar o valor do banco.

Há duas estratégias em curso. Negócios sem sinergia com as atividades principais, que não dependem da rede de distribuição ou do capital do banco serão alvo de venda. Já os negócios com sinergia, vendidos pela rede de agências ou que necessitem de capital poderão ser alvo de parcerias ou abertura de capital. O BB não anunciou prazo para colocar os planos em prática nem divulgou quanto espera arrecadar. “A pior coisa é ter pressa para vender, porque você desvaloriza o ativo”, disse o executivo.

No grupo de ativos que podem ser vendidos, está o Banco Votorantim, no qual a instituição divide o controle com a família Ermírio de Moraes. Uma consultoria será contratada para avaliar as opções, entre elas a venda total ou parcial.

O Banco Patagônia, na Argentina, também está na lista dos candidatos à venda. Segundo Novaes, não há sinergia com as atividades do banco. Mas, ao que tudo indica, o BB deve esperar as eleições do país vizinho para tomar uma decisão, com a expectativa de que uma reeleição do presidente, Maurício Macri, valorize os ativos no país.

Seguros, meios de pagamento, gestão de recursos e banco de investimento podem ser alvo de parcerias ou de abertura de capital. O BB cogita ainda lançar uma corretora de investimentos ou fazer parceria com uma empresa que tenha o negócio.

Embora subsidiárias do banco constem de uma lista de ativos passíveis de privatização divulgada anteontem pelo secretário de desestatização, Salim Mattar, Novaes afirmou que “quando quiser saber o que o BB quer fazer, converse com o presidente do BB”.

O banco também negou que haja intenção de fechar o capital da Cielo, credenciadora de cartões controlada em parceria com o Bradesco. “A Cielo faz parte da nossa estratégia, é sinérgica e está integrada no nosso negócio”, disse Marcelo Labuto, vice-presidente de negócios de varejo do BB.

Para garantir maior rentabilidade, o BB fez um forte ajuste nas despesas. Gastos administrativos e com pessoal subiram 0,6% em 2018, para R$ 31,966 bilhões. O desempenho foi melhor que o projetado pelo banco, que apontava alta de 1% a 4%. As despesas com provisões para calotes recuaram 29,2%, para R$ 14,221 bilhões, e também contribuíram para a melhora no resultado.

A carteira de crédito subiu 1,8% no ano passado, para R$ 697,3 bilhões. Segundo Novaes, o banco vai manter o foco em operações com pessoas físicas e micro e pequenas empresas, nas linhas com melhor relação entre risco e retorno. As ações do BB subiram 5,11% ontem, para R$ 54,74. Analistas destacaram a qualidade na melhora dos ativos, o controle de despesas, e as perspectivas positivas para 2019.