Por Bruno Villas Bôas, Rodrigo Polito e Camila Maia – Valor Econômico

A redução do custo da bandeira tarifária de dezembro aumentou as chances de que a inflação neste ano fique abaixo de 3%, disseram especialistas ouvidos pelo Valor. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou ontem o acionamento do primeiro patamar da bandeira vermelha para dezembro, com acréscimo de R$ 3 a cada 100 quilowatts-hora (KWh) consumidos.

A mudança marca uma redução da cobrança adicional em relação a novembro, que teve o segundo patamar da bandeira vermelha, com acréscimo de R$ 5 a cada 100 KWh consumidos. O patamar dois da bandeira vermelha foi acionado também em outubro, devido à crise hídrica, e foi o principal fator de pressão sobre os preços.

Pelos cálculos da consultoria Tendências, a redução da bandeira vai provocar queda de 4% na conta de luz em dezembro pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e tirar 0,12 ponto percentual da inflação no mês. O impacto favorável não estava no cenário. A consultoria previa a manutenção do nível dois.

“Estávamos prevendo IPCA de 0,44% em dezembro. Agora, com a mudança, essa taxa pode ficar mais perto de 0,30% para o mês. Na prática, isso significa que a nossa previsão para a inflação oficial deste ano também tende a ficar menor: em vez de 3%, teremos algo mais próximo de 2,9%”, disse Marcio Milan, economista da Tendências. A taxa é inferior à meta do ano, que teve o centro fixado em 4,5%, com margem de 1,5 ponto para mais ou para menos.

Nas contas do economista Marco Caruso, do banco Pine, a redução do nível da bandeira tarifária vermelha deve retirar 0,15 ponto percentual do IPCA de dezembro. Caruso, que também previa a manutenção do nível mais alto de cobrança, pode rever assim sua projeção do IPCA de dezembro de 0,40% para 0,25%.

“Isso é um patamar bastante baixo para meses de dezembro. Com a alimentação comportada também no fim do ano, não sobra praticamente nada para colocar pressão nos preços em dezembro, só gasolina, que tem sido um fator mais difícil de prever”, disse Caruso.

Para ele, as chances de a inflação oficial ficar acima de 3% neste ano tornou-se “baixa” após a decisão da Aneel. O Pine previa o IPCA em 3% neste ano e tende a rever essa projeção para algo próximo de 2,85%. O economista se disse surpreso com a decisão da agência, dado o nível de reservatórios e o início de recuperação econômica.

“Apesar de o PLD [Preço de Liquidação das Diferenças, uma das referências usadas pela Aneel na decisão] ter melhorado recentemente, creio que a redução seria algo que a agência começaria a olhar mais para frente. É claro que é um órgão técnico, mas achamos temerária a decisão”, disse o economista. Segundo a Aneel, a redução do patamar da bandeira vermelha foi possível devido à uma “pequena evolução na situação dos reservatórios das usinas hidrelétricas em relação ao mês anterior.”

Considerando PLD desta semana, de R$ 208/MWh, havia a possibilidade de acionamento da bandeira verde em dezembro, se as regras anteriores estivessem em vigor. Isso representaria um alívio maior nos preços, pois a bandeira verde não tem cobrança adicional.

Até outubro, as bandeiras tarifárias eram acionadas de acordo com o custo máximo de operação do sistema (CMO), que é semelhante ao PLD. A bandeira era verde até o custo de R$ 221,28/MWh. Desde 24 de outubro, porém, a Aneel propôs uma alteração na metodologia das bandeiras, a fim de que o mecanismo também incorpore a situação dos reservatórios das usinas, o que justificou a manutenção da cobrança da bandeira vermelha. A proposta de mudança ainda está em audiência pública, mas as mudanças já estão em vigor desde novembro.

Enquanto os reservatórios continuam em níveis muito baixos, o consumo de energia tem demonstrado indícios de recuperação, refletindo os sinais de melhora da economia. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) informou ontem que a carga (consumo mais perdas) do Sistema Interligado Nacional (SIN) cresceu 3% em outubro, para 66.349 MW médios. Ante setembro, houve alta de 1,7%. Em 12 meses até outubro, o volume avançou 1,1%.

Houve aumento no consumo em todas as regiões do país, com destaque para o Sul, que teve alta de 4,1% na comparação anual. “Os sinais mais consistentes de recuperação da economia,  já podem ser observados no comportamento da carga do SIN. Fatores como a queda nos juros, a safra agrícola, a geração de empregos e o aumento das exportações industriais, estão influenciando positivamente o desempenho da carga de energia”, disse o operador.