Por Talita Moreira e Flávia Furlan – Valor Econômico

09/11/2018 – 05:00

Mais otimistas com a economia e o cenário político, os grandes bancos aceleraram no crédito no terceiro trimestre e já mostram disposição para tomar uma dose maior de risco em 2019. Os quatro grandes bancos de capital aberto – Itaú Unibanco, Banco do Brasil (BB), Bradesco e Santander – chegaram ao fim de setembro com um total de R$ 2,2 trilhões em operações de crédito.

A carteira consolidada cresceu 7,14% em 12 meses, o melhor desempenho em mais de três anos. Foi também a primeira vez que o estoque cresceu mais que a inflação após 11 trimestres – o IPCA foi de 4,5% no acumulado de 12 meses até outubro deste ano.

Sem fazer estimativas concretas, os executivos dos bancos esperam um número ainda melhor no próximo ano se a retomada da atividade econômica se mantiver. “Temos apetite para continuar crescendo a carteira de crédito, e crescendo bastante”, afirmou a jornalistas o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior.

A redução das incertezas animou o Itaú Unibanco a discutir uma revisão da política de apetite de risco, ajustada pela última vez em 2016, no auge da crise.

O presidente do banco, Candido Bracher, afirmou que será levada ao conselho de administração uma proposta para aumentar a exposição da instituição ao risco – o que, na prática, levará o banco a dar crédito para pessoas e empresas que têm menor capacidade de pagamento e estavam fora do radar da instituição.

“Aumentar o apetite de risco significa emprestar para quem tem maior probabilidade de default”, disse Bracher em teleconferência com analistas.

O Itaú não está sozinho. O Bradesco, segundo Lazari, já vem ajustando seus modelos para conceder mais crédito à medida que o risco de inadimplência tem diminuído. O Santander, por sua vez, começou a acelerar na oferta de empréstimos e financiamentos antes dos concorrentes.

Até mesmo o Banco do Brasil, que passou os últimos anos focado em recuperar a rentabilidade – e por isso vem apresentando o crescimento mais tímido da carteira -, agora planeja ser mais agressivo no crédito. De acordo com o novo presidente da instituição, Marcelo Labuto, embora não seja ainda possível adiantar qual a meta para o próximo ano, é possível dizer que haverá um crescimento de crédito mais robusto. “No ano de 2018, priorizamos a recuperação da qualidade de nossa carteira de crédito. Em 2019, o planejamento aponta para uma postura comercial mais agressiva.”

Essa mudança de postura reflete uma melhora na qualidade do resultado dos bancos. O lucro somado dos quatro grandes alcançou R$ 18,4 bilhões no terceiro trimestre, um aumento de 12,7% em relação ao registrado no mesmo período do ano passado.

Embora lucros bilionários e crescentes não sejam uma novidade para os bancos, a composição desse resultado é diferente da que se viu nos últimos trimestres. Do início de 2017 para cá, o grande impulso ao resultado das instituições financeiras vinha sendo a queda das despesas com provisões para perdas no crédito (PDD), mas a margem financeira bruta – que reflete o desempenho efetivo das operações de empréstimos e financiamentos e tesouraria – vinha espremida e, muitas vezes, em queda.

No terceiro trimestre deste ano, porém, a margem voltou a crescer, ainda que pouco. Itaú, Bradesco, Santander e BB mostraram, juntos, um aumento de 4,27% nesse indicador, que somou R$ 43,8 bilhões. Individualmente, o Banco do Brasil teve queda de 4,4% na margem em relação ao mesmo período do ano passado.

Os spreads das operações de crédito até caíram, mas os bancos conseguiram compensar esse movimento de duas formas: com mais volume de empréstimos e foco nas linhas de pessoas físicas e micro, pequenas e médias empresas, que pagam taxas mais elevadas.

A redução das despesas com PDD teve, sim, seu papel, mas deixou de ser o único grande motivo para explicar os lucros mais robustos. De qualquer forma, o total de provisões ainda está acima dos níveis históricos, especialmente na carteira de crédito a grandes empresas, o que significa que há espaço para continuar caindo nos próximos meses.

“Nossa expectativa é que a inadimplência continue melhorando, sem grandes repiques, apesar de estarmos com crescimento maior na carteira”, afirmou o diretor de relações com o mercado do Bradesco, Carlos Firetti.

Com o aumento da demanda e a competição em alta – inclusive das “fintechs” -, os bancos devem reforçar o modelo de personalização dos clientes que já vêm adotando. O presidente do Santander, Sergio Rial, disse a jornalistas que o caminho de crescimento da instituição agora passa por uma segmentação “contínua e mais profunda” que a implementada até agora. Segundo ele, também será preciso oferecer maior inovação para conquistar os clientes. “Se a gente acredita num Brasil com taxas de juros normalizadas e até caindo, não necessariamente estruturas que existem hoje no crédito fazem sentido”, afirmou o executivo, acrescentando que planeja lançar uma área de crédito direto ao consumidor.