Antonio Temóteo – Correio Braziliense

postado em 28/12/2017 06:00

No cenário benigno, em que a Previdência é aprovada e os candidatos ao Planalto não assustam investidores, a moeda desceria para menos de R$ 3. No pessimista, porém, ultrapassaria os R$ 5. Cenário externo também pode ampliar o risco

O câmbio terá papel fundamental no processo de recuperação da economia brasileira. Tamanha é a incerteza, que as projeções do mercado para a taxa em 2019 variam entre R$ 3,40 e R$ 3,60. O único movimento claro, por ora, é que o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, deve aumentar os juros três vezes ao longo de 2018, o que levará o preço a moeda norte-americana a subir em relação aos patamares atuais, perto de R$ 3,30. Mais uma vez, o nível de volatilidade no custo da divisa estrangeira no país dependerá da aprovação da reforma da Previdência pelo Congresso Nacional.

Caso as mudanças nas regras para concessão de benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) sejam aprovadas ainda em 2018, o recado do governo para os investidores é de que o país ajustará as contas públicas, não dará o calote nos credores e ainda preparará o terreno para voltar a receber grau de investimento das agências de classificação de risco. Com isso, o Brasil passaria a ser habilitado a receber aportes de investidores institucionais obrigados a aplicar apenas em países com selo de bom pagador. Como consequência, o preço do dólar tende a se manter estável ou cair abaixo de R$ 3.

Por outro lado, caso a reforma da Previdência fique engavetada ou não seja aprovada, a tendência é de que país seja novamente rebaixado pelas agências de classificação de risco. Isso levaria a uma nova fuga de capitais do país e o preço da moeda norte-americana tenderia a ultrapassar os R$ 5.

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Os riscos domésticos não param por aí. A tendência é de que os rumos da eleição presidencial afetem o custo da divisa estrangeira. A eleição de um presidente contrário aos ajustes e às reformas afugentaria investidores interessados em aplicações seguras.

Parte desse processo ficará claro a partir de 24 de janeiro, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será julgado pelo Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região. Se condenado, pode ficar fora do páreo, possibilidade que anima o mercado. Quando a data foi marcada, o preço da divisa norte-americana caiu no Brasil.

Rumos

Na prática, o julgamento pode interferir nos rumos do país e influenciar a escolha do próximo presidente da República. Na avaliação do economista-chefe da Órama Investimentos, Alexandre Espírito Santo, o nível de volatilidade no preço da divisa norte-americana deve ser intenso até o momento em que ficar claro quem serão os postulantes ao Palácio do Planalto. Ele explica que o dólar tende a ultrapassar os R$ 3,70 se o radicalismo pautar o processo eleitoral. E, no pior dos cenários, pode superar os R$ 4, no caso de vitória de um candidato sem compromisso com as reformas.

A piora do ambiente internacional, detalha Espírito Santo, também pode influenciar o câmbio ao longo de 2018 e 2019. Por enquanto, as perspectivas são de que o Fed elevará os juros dos Estados Unidos de maneira gradual, e isso ocorrerá em três oportunidades no próximo ano. “Se a política fiscal do presidente Donald Trump aquecer demais a economia, o Fed pode ser obrigado a executar uma política monetária mais restritiva, com taxas maiores. Com isso, teríamos pressões sobre o preço do dólar no Brasil”, ressalta Espírito Santo.

Outro alerta do economista está ligado à possibilidade de os conflitos entre Estados Unidos e a Coreia do Norte ou entre países muçulmanos deixarem o campo da retórica e se transformarem em guerras. Ele explica que, historicamente, quando há um conflito armado, os mercados ficam menos avessos ao risco e a taxa de câmbio em países emergentes se desvaloriza.