Pedro Grigori – Correio Braziliense

23/11/2017 06:00

Chuvas abaixo da média histórica, poucas opções de captação e expansão das cidades fazem com que os leitos tenham dificuldade de recuperação

A crise hídrica enfrentada pelo Distrito Federal em 2017 ainda não tem previsão de chegar ao fim. Mesmo dentro do período chuvoso, os reservatórios apresentam volumes alarmantes. O Descoberto marca 5,7%, cerca de um quarto do registrado no mesmo período do ano passado: 20,42%. Segundo especialistas, a expectativa é de que, ao término do período chuvoso, a situação seja, na melhor das hipóteses, semelhante à observada em maio de 2017. Enquanto muito se fala sobre a ampliação do racionamento, o governo ainda evita prever uma data ou situação nos reservatórios para que se torne viável encerrar o rodízio de abastecimento, que já perdura por mais de 10 meses.

O nível do Descoberto ainda parece menor se comparado ao registrado no mesmo período de 2014: 53%. Com quedas cada vez mais expressivas, se as chuvas não forem abundantes até maio de 2018, em novembro do próximo ano, a situação do Descoberto pode ser pior do que a atual. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a época chuvosa, na qual os reservatórios costumam apresentar altas, perdura entre a segunda quinzena de setembro e a primeira semana de maio. Acontece que, neste ano, foi registrado apenas 79% das precipitações previstas.

Nos últimos três meses, choveu apenas 52% da média histórica registrada no período. Porém, além da redução das chuvas, outros aspectos têm influência na baixa dos espelhos d’água. “Enquanto não reduzir o consumo de água ou parar a destruição em áreas de recarga de aquíferos, os reservatórios continuarão caindo”, afirma o professor Daniel Richard Sant’Ana, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB).

O professor Charles Dayler, de engenharia civil e arquitetura e urbanismo do Centro Universitário Iesb, explica que, do nível de chuva registrado pelo Inmet, apenas uma parte segue para os reservatórios. “É importante destacar que esses dados não significam que é essa a quantidade de água que está chegando aos reservatórios. É necessário que ela caia em cima da bacia de contribuição”, detalha.

Além disso, Charles reforça que leva tempo para que os níveis retomem o crescimento. “Mesmo com as chuvas de novembro ficando acima da média histórica, não houve impacto porque o solo das regiões estava muito seco. A água acabou se infiltrando e só deve chegar aos rios em algumas semanas”, avalia.

Em outubro, duas novas captações entraram em funcionamento: os sistemas do Bananal e do Lago Norte. A expectativa é de que, com elas, o nível do Descoberto caia menos durante o próximo ano. “Essas obras podem ajudar a segurar as pontas,  mas a situação hídrica do DF só deixará de ser tão crítica quando a captação permanente do Lago Paranoá e a de Corumbá IV estiverem em operação”, ressalta o professor Charles.

O Sistema de Corumbá IV, localizado próximo a Luziânia (GO), captará cerca de 2,8 mil litros por segundo, divididos igualmente entre DF e Goiás. A construção, feita em conjunto pela Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) e pela Saneamento de Goiás (Saneago), foi planejada em 2001, mas teve a entrega adiada diversas vezes, principalmente por causa de seguidos escândalos de corrupção. A nova data para o começo das operações é dezembro de 2018 e, até agora, custará R$ 540 milhões.

Enquanto isso, a obra de captação permanente do Lago Paranoá ainda não tem previsão de sair do papel. Quando estiver em funcionamento, ela significará cerca de 1,5 mil litros de água por segundo para os brasilienses. A Caesb tem um projeto licitado para obter, armazenar, tratar e distribuir água do principal lago da capital, mas espera o GDF concluir o financiamento de R$ 480 milhões com a Caixa Econômica Federal.