Por Estevão Taiar – Valor Econômico

A alta nos preços de alimentos e energia elétrica deve fazer com que a inflação de outubro acelere em relação a setembro. De acordo com a estimativa média de 26 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,48% no mês passado, contra 0,16% em setembro. O resultado será divulgado hoje.

No acumulado de 12 meses, também deve haver aceleração de 2,54% em setembro para 2,76% em outubro. Mesmo assim, a conjuntura inflacionária não preocupa. Depois de o Banco Central manter a taxa básica de juros em 14,25% durante mais de um ano, o acumulado de 12 meses do IPCA despencou, saindo de 10,71% no começo de 2016 até atingir 2,46% em agosto deste ano. Passada essa queda brusca, agora a tendência é que nos 12 meses o indicador retorne a patamares mais “normais”.

No IPCA de outubro, com bandeira tarifária de energia subindo de patamar e o consequente encarecimento do consumo de eletricidade, o grupo Habitação deve ter alta de 1,42%, no cálculos da GO Associados. Esse aumento causaria impacto de 0,22 ponto percentual (p.p.) no indicador. Já o grupo Alimentação e Bebidas deve ter alta de 0,15% (impacto de 0,04 p.p.), em função de um aumento no preço dos alimentos, depois de cinco meses seguidos de queda.

“Essa variação positiva dos alimentos é uma correção de patamar depois de todos os esses recuos consecutivos, mas também uma volta da sazonalidade, já que no fim e no começo do ano o preço desses produtos tendem a subir”, diz Luiz Fernando Castelli, economista da GO.

Em relatório, o Santander destaca a inflação dos alimentos e a mudança da bandeira tarifária e prevê taxa de 0,53% em outubro. A instituição chama a atenção para a inflação acumulada em 12 meses (estimada em 2,76%), “muito abaixo do centro da meta (4,5%), o que mantém espaço para a continuidade do afrouxamento da taxa de juros no curto prazo”.

O UBS destaca as pressões que os preços de alimentos e energia devem exercer no indicador de outubro. Ainda assim, a deflação de alimentos “continua forte” em um prazo maior, com uma queda de “quase 5% em relação ao mesmo período do ano passado”.

O banco suíço vê espaço para nova queda dos juros. Isso porque o núcleo da inflação, que exclui itens com preços mais voláteis, deve continuar entre 3,5% e 4% no acumulado de 12 meses, ainda abaixo da meta estabelecida pelo Banco Central.

Para o UBS, a Selic, taxa básica de juros da economia, pode cair para 7% na próxima reunião do Comitê de Política Monetária, em dezembro, sem que isso crie pressões inflacionárias. As projeções do banco suíço para o IPCA neste e no próximo ano também estão abaixo da meta do Banco Central: 3,1% em 2017 e 3,7% em 2018.

O Haitong calcula que o indicador ficou em 0,49% em outubro. A alta em relação a setembro, entretanto, não afeta o cenário benigno de inflação, já que “poucos itens” devem causar a elevação em relação a setembro. A equipe econômica do banco calcula que a média dos núcleos da inflação ficou em 0,38% no mês passado e em 3,7% no acumulado de 12 meses, número “compatível” com a meta. “Portanto, não esperamos que o resultado do IPCA de outubro mude a confiança do Banco Central de que a conjuntura inflacionária continua favorável”, diz em relatório.