Por Lucinda Pinto, Juliana Machado e Lucas Hirata

Mesmo amplamente esperada, a vitória de Jair Bolsonaro (PSL) deve abrir espaço para um rali adicional dos mercados, em especial na bolsa de valores, já nos próximos dias. Ainda que com muitas incertezas sobre como, de fato, o novo governo conduzirá as reformas prometidas, o mercado deve conceder o “benefício da dúvida” para Bolsonaro e operar sob um cenário em que as reformas avancem.

Com isso, analistas ouvidos pelo Valor acreditam que o Ibovespa tem potencial para alcançar um patamar entre 90 mil e 100 mil pontos até o fim do ano – o que representaria uma alta entre 5% e 17% em relação aos preços de hoje – e parte dessa valorização deve já acontecer nesta semana. Já o dólar, que já caiu 9,5% no mês de outubro, pode ceder um pouco mais e caminhar para mais perto dos R$ 3,60.

Sinal dessa reação positiva, na bolsa de Tóquio, um dos principais fundos de índice ligados ao Ibovespa – ETF Next Fund – tinha alta de 13,5% nos primeiros 30 minutos de negociação desta segunda-feira (domingo no Brasil).

Para Ronaldo Patah, estrategista do UBS Wealth Management, a vantagem de 10,3 pontos de Bolsonaro em relação a Fernando Haddad indica que o novo presidente chega com legitimidade razoável para negociar com o Congresso. “Não significa que, necessariamente, ele irá aprovar as reformas, mas que pode ter um bom apoio.” Este quadro sugere que há espaço para ganhos adicionais, em especial na bolsa.

“As ações ainda estão subavaliadas e por isso têm potencial de mais valorização, inclusive com fluxo comprador do investidor estrangeiro”, afirma. A vinda de recursos externos para o mercado de ações pode contribuir para o dólar cair um pouco mais. Patah trabalha com um dólar perto de R$ 3,60 no fim deste ano, mas não descarta que haja uma queda ainda mais forte no curto prazo, para perto de R$ 3,50.

Já para o mercado de renda fixa, que passou por uma expressiva queda de taxas desde o primeiro turno, o movimento tende a ser muito mais cauteloso. “Os juros refletem diretamente os riscos fiscais e, por isso, será preciso mais confiança nas reformas e nos nomes da equipe econômica para que a melhora prossiga.”

Para Renato Ometto, sócio da Mauá Capital, a bolsa deve ter um bom desempenho hoje. “Mas Bolsonaro precisa anunciar toda a equipe econômica. Não acreditamos em um governo difícil, mas também será preciso fazer alianças e abrir diálogo com o Congresso para aprovar as pautas.”

Ometto afirma que o mercado já operava, desde o começo do mês, com boa dose de certeza de que Bolsonaro seria eleito. Até aqui, porém, houve sempre um teto para o avanço da bolsa e queda do dólar, que agora não deve existir, confirmado o resultado. Ele também não vai, neste momento, elevar mais a exposição dos fundos sob sua gestão em estatais e varejistas por considerar que é “arriscado”. “Quem estava esperando o resultado para se posicionar não vai ficar menos otimista, mas já deveria estar na bolsa com essa aposta”, diz. “Dependendo de tudo que puder ser implementado é que as empresas vão poder valer mais.”

Para José Alberto Tovar, sócio-fundador da Truxt Investimentos, é preciso considerar que o cenário internacional mais hostil pode colocar o rali dos ativos locais à prova. É sobretudo nesse contexto, afirma ele, que Bolsonaro terá que dar celeridade ao processo de melhora das contas públicas no país, porque países emergentes já têm fragilidades grandes para enfrentar a turbulência global, diante da menor perspectiva de crescimento dos países e elevação de juros em economias desenvolvidas.

Para a XP Investimentos, o Ibovespa pode atingir um patamar entre 90 mil e 100 mil pontos até o fim deste ano “Hoje 5,5% dos ativos estão em bolsa, comparado com uma média histórica de 8,4% e pico de 14,6%”, diz. Num cenário otimista, em que as reformas são aprovadas ao longo de 2019, o Ibovespa poderia buscar os 125 mil pontos até o final do próximo ano. Mas, no cenário-base traçado pela XP, o Ibovespa deve encerrar 2019 entre 105 mil e 115 mil pontos. “A principal variável é a evolução da agenda reformista, com foco na Previdência”, diz, em relatório, o estrategista-chefe da XP, Karel Luketic.

O cenário da XP prevê também um alívio da curva de juros até o fim do ano. A taxa de juro futuro com vencimento em 2020 deve cair para entre 7,5% e 8,5% e para 10% para 2030, o que significa um recuo entre 0,5 e 1 ponto percentual. Já para o dólar, a expectativa é de que a cotação chegue ao fim do ano entre R$ 3,60 e R$ 3,90. O presidente do conselho do Bradesco, Luiz Trabuco, disse em nota que “passadas as naturais tensões da campanha” o Brasil se encontra na “posição ideal” para superar “uma desafiadora agenda de questões econômicas”. Já o presidente do banco, Octavio de Lazari, destacou que o país pode iniciar um “novo ciclo de reformas estruturais”. Para o Itaú Unibanco, é “hora de unir a sociedade em torno de objetivos comuns, que visem à superação dos desafios que o Brasil enfrenta em diferentes esferas”.