Por Estevão Taiar e Ana Conceição – Valor Econômico

O resultado primário do governo central (Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência Social) se aproxima, aos poucos, da meta de 2017, de déficit de R$ 159 bilhões. Os dados de setembro, que serão divulgados hoje devem reforçar esse cenário, segundo economistas. De acordo com a estimativa média de 13 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data, o governo central teve um déficit de R$ 20,2 bilhões no mês passado. Em setembro de 2016, o déficit foi de R$ 25,838 bilhões, valor atualizado pelo IPCA. Em agosto, houve déficit de R$ 9,6 bilhões.

Se confirmado, o resultado de setembro levará o resultado negativo acumulado em 12 meses para R$ 165,16 bilhões, ou R$ 6,16 bilhões acima da meta. Até agosto, o acumulado em 12 meses foi de R$ 172,8 bilhões, ou R$ 13,8 bilhões mais que a meta.

Na segunda-feira é a vez de o Banco Central divulgar o resultado primário do setor público consolidado, que leva em conta também Estados e municípios e suas estatais. A estimativa média de 14 economistas é de um déficit de R$ 20,6 bilhões, atingindo o equivalente a 2,3% do PIB no acumulado de 12 meses.

Na ponta mais pessimista das projeções, a GO Associados estima déficit de R$ 22,9 bilhões em setembro, com resultado negativo de R$ 170,1 bilhões em 12 meses. A despeito disso, a consultoria acredita que a meta de primário será cumprida neste ano. “A arrecadação tem se recuperado em virtude da melhora da atividade. O Refis foi positivo, até um pouco acima do esperado pelo governo”, afirma Luiz Castelli, economista da GO.

Ele ainda lembra que os últimos leilões de campos de petróleo tiveram resultados bons e os da segunda e terceira rodadas da partilha do pré-sal, amanhã, devem ficar dentro das expectativas. O governo estima arrecadar R$ 7,75 bilhões em bônus de assinatura.

Hoje, a projeção da GO é que o déficit do governo central fique em R$ 150 bilhões no ano. Entretanto, diz Castelli, é bastante provável que o governo aproveite o espaço que tem em relação à meta para descontingenciar parte do orçamento e encerrar o ano com déficit de R$ 159 bilhões ou muito próximo disso.

Bruno Lavieri, economista da 4E Consultoria, também no lado mais pessimista, afirma que há pouca margem de manobra para frustrações na arrecadação ou novos aumentos de despesa. “A verdade é que a meta está bem justa. Dificilmente, o governo conseguirá fazer resultado sensivelmente melhor do que esse”, diz, referindo-se às suas estimativas de déficit primário de R$ 26,4 bilhões em setembro e de R$ 169,1 bilhões no acumulado de 12 meses.

Já o Santander calcula que o governo central registrou em agosto déficit de R$ 16,7 bilhões, “devido ao pagamento de parte do 13º salário dos aposentados e pensionistas”. Por outro lado, estima, a arrecadação já reflete a melhora dos indicadores de atividade e receitas não recorrentes, como o Refis, que em setembro levou R$ 3,4 bilhões para os cofres públicos. Se confirmada a projeção da instituição financeira, o déficit no acumulado de 12 meses cairia para R$ 162 bilhões. Isso, segundo a equipe econômica do Santander, mostra que “está ficando claro” que o governo atingirá a meta neste ano.

Assim, as atenções, no âmbito fiscal, passam a se voltar para 2018, cujo cumprimento da meta dependerá de iniciativas de política, algumas das quais envolvendo o Congresso, na visão do banco.

O Haitong, por sua vez, espera déficit de R$ 18 bilhões do governo central e de R$ 163,8 bilhões no acumulado de 12 meses. O banco lembra, no entanto, que a meta do ano é negativa em mais de R$ 150 bilhões. Isso, diz, “dá uma ideia de como é importante a aprovação de reformas que ajudem o governo a cortar gastos e racionalizar seu orçamento.