Por Rodrigo Rocha – Valor Econômico

24/07/2018 – 05:00

Em um período de escassez de novos projetos de saneamento, a Aegea se consolidou como uma participante relevante do setor privado, acrescentando mais de 2 milhões de pessoas aos seus consumidores desde 2016. Agora, a companhia volta-se para organizar suas novas operações e se adaptar a um novo tamanho. Nos negócios mais recentes, a companhia venceu a licitação para a operação de Teresina e adquiriu a Companhia de Saneamento do Norte, responsável pelas operações de água e esgoto Manaus. Até 2020, irá desembolsar R$ 800 milhões pelo negócio da capital do Amazonas.

Além disso, a empresa está próxima de fechar a aquisição de uma Parceria Público-Privada (PPP) vencida pela OAS para esgotamento sanitário em Guarulhos, segunda maior cidade do Estado de São Paulo. A expectativa é assumir as operações a partir de 1º de setembro.

“O foco da companhia nos próximos doze meses é ajustar o modelo a um novo tamanho, um tamanho que ela pode alcançar a partir de agora. Se houver oportunidades, a companhia vai disputar, mas hoje não é o foco o crescimento via essas oportunidades, mesmo porque acreditamos que não existirão muitas”, explica Hamilton Amadeo, presidente da Aegea Saneamento, em entrevista ao Valor.

Controlada pela Equipav, que detém 67,21% do capital social, a empresa contou com o interesse de dois sócios minoritários estrangeiros para financiar seus avanços nos últimos anos. O IFC, ligado ao Banco Mundial, e o GIC, fundo soberano de Cingapura, têm realizado injeções de capital que sustentaram a curva de crescimento da operadora, elevando suas fatias para 11,35% e 21,44%, respectivamente.

“Muito do que se encontra no nosso modelo de gestão decorre da leitura que a gente faz da expectativa do investidor. É um processo de mão dupla”, afirma Amadeo. “Nesse sentido, não tem muita diferença entre o controlador e os sócios. A grande diferença entre é que o controlador não tem apetite e capacidade para aumentar capacidade. O minoritário tem os dois.”

O setor de saneamento vive um marasmo de novos projetos desde 2016. Está sem novas oportunidades de grande porte por meio de concessões e licitações desde que a Agespisa, companhia estadual de saneamento do Piauí, realizou a subconcessão das operações das operações de Teresina. Para o presidente da Aegea, essa “seca” de projetos deve durar até meados do ano que vem.

Com muito a fazer nos novos negócios, o volume de desembolsos também cresceu. A operação de Manaus, por exemplo, possui um elevado nível de perdas de água e de distribuição e Teresina teve de adaptar o abastecimento ao período anual de estiagem. “Saímos de um patamar de R$ 400 milhões investimento por ano até 2017, o nível subiu pouco mais esse ano, mas tenho que estar preparado para triplicar o patamar”, destaca Amadeo.

Para lidar com esse mercado parado, o executivo diz que também tem conversado com grandes companhias estaduais de saneamento para a construção de parcerias. A mais avançada é o desenvolvimento de um projeto de esgotamento para 40 cidades mineiras com a Copasa. O projeto, porém, não é uma garantia de negócio, uma vez que deve ir para disputa via licitação.

Além dos sócios, a companhia também adota uma política de acesso a múltiplas fontes de financiamento.

Complementarmente aos bancos públicos, a Aegea recorre ao mercado de capitais. No ano passado, concluiu uma emissão de US$ 400 milhões em bônus no exterior. Este ano, já tem aprovação para captar R$ 600 milhões em debêntures. Essa, no entanto, deve ser a última emissão da companhia até o fim do ano que vem.

“O acionista está enxergando que eu vou consolidar a companhia, que o mercado vai estar parado, mas que ele está preparado para uma arrancada. Mais que uma oportunidade de negócio na Aegea, estamos desenvolvendo um novo modelo para o mercado”, completa o executivo.